Sunday 19 November 2023

Propostas de leitura para 21 de novembro - Bartleby, de Melville

  


Escolher uma (ou mais):

1. Quais as conotações simbólicas da parede/muro (walls) e que materializações desta "barricada" encontramos no texto.

2. Caracterize e especule sobre "a personagem" do narrador.

3. Como interpreta a última frase do texto?

8 comments:

Natalia gonçalves said...

O narrador é inicialmente descrito como um homem prático e racional que apresenta uma abordagem pragmática em relação à vida e ao trabalho. No entanto, a sua vida e perspectiva mudam quando Bartleby entra em cena. O narrador, ao contrário de Bartleby, é altamente convencional, conformista e representa os valores da sociedade da época que valorizava o trabalho árduo, a produtividade e a obediência às normas.
Ao longo do texto o narrador vai ficando perplexo e intrigado com o comportamento passivo e resistente de Bartleby em relação ao trabalho. Pode-se dizer que o narrador representa a conformidade social e a alienação do indivíduo numa sociedade que valoriza o trabalho acima de tudo. Esta sua incapacidade de compreender ou aceitar a atitude de Bartleby destaca a rigidez das normas sociais e a dificuldade de lidar com aqueles que não se encaixam nesses padrões.
Além disso, a narrativa na primeira pessoa destaca a subjetividade do narrador, e a sua incapacidade de compreender completamente Bartleby pode sugerir as limitações da perspectiva individual na compreensão do próximo. O narrador, ao confrontar a aparente falta de sentido de comportamento de Bartleby, pode simbolizar a dificuldade humana em lidar com a ambiguidade e a resistência à categorização.

EU & literatura said...

A frase "Ah Bartleby! Ah humanity!" reflete a dualidade de emoções experimentadas pelo narrador, sendo não só um empregador perplexo, mas também um observador comovido. A exclamação "Ah Bartleby!" sugere um misto de lamento e desamparo perante a atitude incompreensível de Bartleby. A persistente recusa de Bartleby (“I prefer not to”) em conformar-se às normas e expectativas sociais cria uma barreira entre ele e o mundo ao seu redor, o que deixa o narrador impotente e incapaz de compreender (e até mesmo ajudar) o escrivão.
A exclamação "Ah humanity!", amplifica a reflexão do narrador para além do caso específico de Bartleby. O narrador já não está apenas a lamentar a situação única de Bartleby, está a expressar uma tristeza relativamente a forma que os outros indivíduos agiram perante a situação de Bartleby (não demonstrando qualquer empatia pelo escrivão). Isto demonstra um descontentamento perante a natureza humana. A própria interjeição "Ah" sugere uma lamentação profunda e resignada. A palavra "Ah humanity!" sugere que a história de Bartleby não é apenas uma anedota isolada, mas um reflexo de questões mais amplas relacionadas à condição humana.
Deste modo, podemos interpretar a frase "Ah Bartleby! Ah humanity!", como sendo uma expressão de desespero e compaixão por parte do narrador. Esta frase reflete ainda a frustração e a perplexidade do narrador em relação a Bartleby, que mostra ser um enigma ao longo de toda a história. "Ah Bartleby!" sugere uma mistura de tristeza, compaixão e, talvez, até resignação perante a situação incompreensível de Bartleby. "Ah humanity!" expande o lamento para além do indivíduo, sugerindo uma reflexão mais ampla sobre a natureza humana e as complexidades das relações humanas.
Bárbara Soares

Catarina Pinheiro said...

Muito se poderia especular sobre o narrador de Bartleby, que apenas se conhece na primeira pessoa, através do que o próprio narra sobre os acontecimentos e os seus pensamentos. Tratando-se de um narrador homodiegético, que participa ativamente na história na qual Bartleby é o protagonista, é prudente desconfiar-se do que é narrado. A sua participação na ação implica uma experiência subjetiva e, por isso parcial. A focalização interna proporciona um retrato de Bartleby necessariamente incompleto ou menos fidedigno do que seria a de um narrador omnisciente heterodiegético, ou mesmo se Bartleby contasse a sua história na primeira pessoa. A opção do autor contribui, deste modo, para o mistério que envolve o protagonista.
Mas foquemo-nos no narrador como personagem. Pouco sabemos dele, além da sua idade (perto de sessenta anos), profissão (advogado) e a sua (pelo menos, aparente) preocupação cristã com Bartleby. A sua vida parece girar à volta do trabalho. Sabemos que tem uma casa, mas não sabemos se tem uma família. Se tem, nunca a menciona, e esta não parece ocupar os seus pensamentos. O que se destaca na visão que tem de si mesmo é o facto de se considerar um “bom cristão” ou uma alma caridosa. No entanto, a constante necessidade de o provar e de justificar as suas ações que poderiam ser vistas como algo questionáveis, de um ponto de vista moral, pode levar o leitor a concluir que ele procura agir corretamente não para fazer o bem por si só, mas sim para responder aos padrões morais da sociedade burguesa à qual pertence ou, como se poderia especular, numa atitude devota que advém de um receio do inferno. Ambas denotam uma abordagem ao bem como um fim e não como algo válido em si mesmo. Importa referir que a sua atitude perante os seus empregados, é bastante classista, chegando a lamentar-se sobre o quão reduzido é o salário dos escrivães, ordenado que é pago por si, como se as desigualdades (económicas) fossem naturais e não pudessem ser corrigidas, apenas amenizadas pela caridade.
É possível que o narrador represente o homem médio de Wall Street e poderíamos aí adivinhar uma crítica social mais alargada a uma certa classe social. O facto de ele não ter nome, nem atributos singulares que se destaquem, ajuda a esta tese. A característica que mais o perturba em Bartleby pode também ser-lhe apontada — a passividade. É verdade que procura agir inicialmente, mas acaba por revelar não ter a audácia suficiente para resolver o problema (o destino de Bartleby), preferindo mudar de escritório para “daí lavar as suas mãos”. Contudo, o que é mais intrigante na personagem do narrador, a meu ver, é a sua atitude de um certo questionamento acerca do destino da humanidade, que o comportamento de Bartleby desponta em si, embora tal não seja suficiente para o levar a agir, a mudar o curso do seu destino e do seu empregado. Daí a exclamação final — “Ah Bartleby! Ah humanity” — que poderá ser entendida como um suspiro de quem não encontrou respostas, apenas perguntas que não pretende, na verdade, responder, pois tal poderia conduzir a uma transformação profunda na sua vida confortável.

Marta Silva said...

The lines can be interpreted in different ways but I believe that both of them exist to create a sense of empathy and compassion on the reader's eyes (that's the true objective).
Overall by just analysing the sentence "Ah, Bartleby!", I believe it demonstrates the narrator's mourning and his deep connection with Bartleby (despite all the frustration that Bartleby has caused, the narrator still cared for him).
And in the last sentence "Ah, humanity!", I believe it demonstrates a sense of sadness, desperation, frustration even but towards the limitations of human existence.

Sofia Henriques Fialho said...

A expressão “Ah,Bartleby! Ah,humanity” apresenta várias interpretações, tais como, uma expressão de compaixão e tristeza por parte de Bartleby, representando a alienação e desespero humano na sociedade, uma vez que pode estar a ser lamentando não só o caso específico de Bartleby, mas também a condição ampla da humanidade. Além disso, pode ser também interpretado como uma crítica para a indiferença e a insensibilidade da sociedade em relação a Bartleby, sugerindo assim, uma visão sombria da humanidade. A interjeição “Ah” pode realçar uma mistura de emoções, incluindo, admiração, desespero e também aceitação. A expressão “Ah, Bartleby” pode ser interpretada também como uma expressão de desamparo e solidão, abrangendo todos os indivíduos da sociedade que enfrentam o isolamento e a solidão. Uma outra possível interpretação poderia ser uma crítica à indiferença social, “Ah,humanity” refletindo, assim, a decepção do narrador em relação à falta de compaixão e empatia na sociedade, especialmente em relação às pessoas marginalizadas como Bartleby. Por outro lado, “Ah,humanity” pode ser interpretada de maneira irónica e sarcástica, no sentido em que, o narrador poderia recorrer a esta expressão de maneira cínica para destacar as contradições e as desigualdades na sociedade.
Sofia Fialho

Rafaela SIlva said...

A última frase do texto, “Ah Bartleby! Ah Humanity!” pode simbolizar o arrependimento e de certa maneira a dor do narrador que a seu ver falhou em ajudar Bartleby que acabou por morrer pode ser visto como um lamento da sua morte que nos permite ver outro lado do narrador, o lado de alguém com compaixão, que lamenta a perda de alguém que ele tentou ajudar e não conseguiu lamentando a sua perda e em parte da humanidade. Tendo em conta o final da obra esta frase pode ser interpretada como uma lamento pela humanidade, pois a maioria da população tal como Bartleby trabalha em condições deploráveis, às vezes nos empregos mais inusitados como Bartleby para sobreviver, o que faz com que se isolem e como Bartleby acabem por morrer sozinhos sendo esta morte muitas vezes derivada do próprio trabalho podendo ser esta frase realmente um lamento por toda a humanidade que sofre tal como Bartleby.
Rafaela Silva

Penélope Lopes said...

2- É um narrador singular que revela diferentes facetas de sua personalidade ao longo da história. Inicialmente empático, o narrador mostra compaixão ao empregar Bartleby. No entanto, ele também expressa desilusão com as práticas comerciais convencionais. A indecisão do narrador sobre como lidar com Bartleby é evidente, provocando reflexões sobre vida e trabalho. A relação entre os personagens torna-se tensa devido à frustração do narrador com o comportamento passivo de Bartleby. O simbolismo da parede de tijolos destaca a tentativa do narrador de estabelecer barreiras emocionais. Autocrítico, o narrador reflete sobre suas ações, mostrando uma complexidade emocional. A história aborda temas de solidão e isolamento, conectando a experiência do narrador com a de Bartleby. Esses elementos revelam a riqueza e a profundidade do personagem narrador na obra.

Inês Mendes said...

3- O texto finaliza com a frase "Ah Bartleby! Ah Humanity!", através da qual o narrador expressa mais emoção do que em toda a história. Trata-se de um lamento por Bartleby e a sua incapacidade de se integrar na sociedade. É apenas depois da morte de Bartleby que o narrador empatiza com este, o que causa frustração e arrependimento ao advogado. O final do texto apresenta Bartleby como um exemplo da humanidade e funciona como um apelo a que haja mais compreensão e solidariedade entre todos nós, já que, tal como Bartleby, todos temos fraquezas e limitações.