Wednesday, 29 November 2023

para a aula de 5 de dezembro - Emily Dickinson

 Comente um dos poemas (ambos na p.192 da antologia) à luz do imaginário que convocam sobe o mar, socorrendo-se para isso do capítulo "Sea Poetry II - The Sea in Emily Dickinson" do livro Ocean (2020) de Steve Mentz (reproduzido nas pp. 260-273 da antologia).

a) "I started Early — Took my Dog —"

ou

b) "Hope" is the thing with feathers -

para este último, podem também ganhar ideias com o "diferencial" de uma tradução que fiz (publicada em O Outono de Oitocentos, flop, 2022):


(deixo-vos ainda, como bónus, um clip da série "Dickinson" na Apple TV, ficcionando o encontro da poeta com Walt Whitman



6 comments:

Catarina Pinheiro said...

Neste poema, podemos argumentar que está presente a noção de mar como "alienígena", como local estrangeiro e afastado do sujeito poético, indo ao encontro da análise de Steven Mentz em Ocean (2020).
A Esperança é personificada numa “coisa com penas”, numa “ave”. A constância deste sentimento é intensificada através do recurso à imagem da tempestade, que pode evocar um imaginário marítimo que será consumado na estrofe seguinte. Tal é a força e a persistência do canto desta ave («never stops -- at all -- »), personificação da Esperança, que manteve quentes, reconfortou tantos, que não só se ouve no meio da tormenta, como só uma tempestade inflamada seria capaz de a assolar.
A ideia da permanência da Esperança é novamente reforçada na última estrofe, onde surgem as imagens da “terra mais gelada” e do “mar mais estranho” numa construção de excesso, hiperbólica. No final, apresenta-se uma última característica desta ave — não pede nada em troca ao eu lírico, nem uma “migalha”, apesar de estar sempre disposta a dar(-se) ao mesmo.
Atentemos agora no papel que o mar poderá representar no poema. Convoca, por um lado, a vastidão, abrindo o horizonte de atuação da ave, bem como da própria imaginação (marítima) do leitor. O Mar, que surge em maiúscula, como se tratasse de um sujeito da ação, exerce o seu poder infinito, que não pode ser abarcado e, por isso, poder-se-á argumentar que simboliza simultaneamente a fragilidade do ser humano, que não o consegue conter, e o poder da Esperança que, até nessa extensão das ondas, ecoa. Por outro lado, o adjetivo «strangest» pode remeter-nos para o conceito de “mar como espírito alienígena”, que Mentz defende estar presente na poesia de Emily Dickinson e, em particular, neste poema. A ideia de o Mar ser “o mais estranho” cria uma cisão com o sujeito lírico, podendo significar tudo aquilo que ele não é ou não conhece, um território de alteridade, contribuindo, mais uma vez, para enfatizar a perenidade da Esperança que o eu lírico especula o acompanhará até aos locais mais distantes de si, reais ou imaginados. Por fim, poderá ser relevante notar que a última rima do poema é precisamente entre «Sea» e «Me», aproximando essas duas “entidades”, que o adjetivo «strangest» parece contrapor, o que pode gerar uma certa ambiguidade relativamente ao significado deste estranho Mar e da sua relação com quem escreve.

Rafaela Silva said...

No poema “I Started early – took my dog –“ podemos perceber que existe um desejo de explorar de sair em aventura e essa possibilidade de sair, de viver e explorar está presente na presença do mar, o mar é uma nova forma de viver, uma nova experiência no entanto embora veja neste mar uma fuga e sinta vontade de estar no mar, esta também sente medo do mesmo o que a impede de seguir. O mar pode ter várias interpretações pode simbolizar liberdade das expetativas dos outros dos seus próprios pensamentos, o mar é o elemento libertador e novo que contraste com a terra que é um ambiente seguro mas do qual pretende sair embora seja assustador para a mesma. Como se lê em “Sea Poetry II: the sea in Emily Dickinson” a poeta procura no mar plenitude e liberdade longe das limitações impostas em terra.
Rafaela Silva

Yifei Chen said...

Em "I started Early-Took my Dog", Emily Dickinson, em um tom surrealista, descreve de maneira elaborada a atração perigosa e imersiva do mar. A poetisa tem um encontro com o mar que envolve encontros com "Frigates" e "Mermaids in the basement" - verifica-se aqui uma domesticação do mar.
O encontro com o Oceano se desdobra à medida que a maré envolve o corpo da poetisa, do sapato ao avental, cinto e espartilho. O poema entrelaça o fluxo carregado de sensualidade com uma fantasia carnívora, retratando a maré como algo masculina "And made as He would eat me up". O movimento não humano do Oceano representa uma ameaça, sugerindo a possível absorção da poetisa e de seu fiel cão - "Ocean’s saltwater body threatens to consume the adventurous poet". Conforme a poetisa se retira da praia, a Maré a segue, deixando um rastro prateado.
Segundo “Sea Poetry II: The Sea In Emily Dickinson” poema captura a exploração imaginativa do mar, onde o encontro com o Oceano desfoca as fronteiras entre o humano e o não humano.

Inês Mendes said...

No poema "I started Early — Took my Dog —", o mar encontra-se personificado como um homem, com o qual o sujeto poético se encontra. Neste encontro, há então um ambiente sensual e fantástico, que satisfaz os desejos sexuais do sujeito poético sem que haja contacto físico com outra pessoa.
No verso "The Mermaids in the Basement/ Came out to look at me —", o sujeito poético é um objeto de fascinação das "Mermaids" durante o seu passeio matinal com o seu cão. A atmosfera do poema é, então, calma mas simultaneamente mística. Este verso prevê o que o resto de "I started Early — Took my Dog —" sugere: o sujeito poético é apenas observado, e deseja ser objeto de admiração.
A segunda estrofe inicia-se com um objeto real — as fragatas —, o que combina os elementos reais e os místicos no mesmo plano. Existe uma consciencialização do lado místico e tranquilo da vida — o mar e as sereias —, mas também da guerra e do tumulto. Os versos "Extended Hempen Hands —/ presuming Me to be a Mouse —" enfatiza a vastidão do mar, com o qual o sujeito poético se compara, reconhecendo a sua pequenez.
Na estrofe seguinte, o sujeito poético continua a personificação do mar — focando-se apenas no místico e no fantástico. "But no Man moved Me" sugere a solidão do sujeito poético, que nunca se envolveu com nenhum homem. Assim, o mar aparece como um elemento que "sacia" gradualmente o seu desejo de intimidade com alguém — começando pelo sapato, depois o avental, o cinto e o espartilho, cada vez perto do corpo. A maré é comparada a um encontro com um homem, que pouco a pouco toma o seu corpo todo.
"And made as He would eat me up—/ As wholly as a Dew/ Upon a Dandelion's Sleeve" revela, também, o desejo sexual de se envolver com um homem, tal como o orvalho cobre um dente-de-leão.
Finalmente, a estrofe final revela a sequência deste encontro: o sujeito poético afasta-se, com o mar impedido de o seguir, o que revela uma hesitação em entregar-se a alguém, mesmo que o deseje intensamente.
O capítulo "Sea Poetry II - The Sea in Emily Dickinson" confirma este simbolismo do mar como um elemento vasto, misterioso e, simultaneamente erótico e sedutor.

Beatriz M. Teixeira said...

Neste poema Dickinson procede à personificação do termo "Esperança" como uma coisa com penas, mais especificamente um pássaro- "the thing with feathers". Esta metáfora sugere que a esperança é algo delicado, mas com a capacidade de elevar o espírito humano. A imagem de um pássaro que "nunca para" implica a natureza duradoura da esperança. Persistindo perante os desafios, tal como um pássaro que continua a cantar em várias condições.
O poema sugere que a esperança é mais reconfortante e apreciada nos momentos difíceis ("the sweetest in the gale").
O poeta enfatiza que a esperança é universal, alcançando até a "chilliest land" e o "strangest sea". Além disso, a esperança é retratada como autossuficiente, nunca pedindo nada em troca ("It asked a crumb of me").
Para terminar o poema destacou-se pela sua exploração atemporal da esperança como uma força duradoura e construtivo para a experiência humana.

Anonymous said...

"Hope is the thing with feathers" de Emily Dickinson é um poema que tem como foco central a esperança, que é vista como algo leve e livre, comparando-a a uma ave com penas. Assim como as ondas do mar (“the strangest Sea”), a esperança pode ser constante e persistente, mesmo diante das adversidades.
Deste modo, o mar é aqui associado a um símbolo de vastidão e continuidade, refletindo a natureza duradoura da esperança, que é por excelência o sentimento e a ideia que “é a última a morrer!”.
Mafalda Garcia