Wednesday 13 September 2023

TPC para 19 de Setembro - para ler a Declaração dos Representantes

 Refletir e comentar sobre:


- uso dos pronomes pessoais
- figuras de estilo e/ou colocações de palavras mais impressionantes
- campos semânticos (palavras e expressões mais recorrentes que possam associar-se a núcleos ideológicos específicos) 
- descrição dos súbditos vs. Governo Britânico
- relevância das correções e omissões do rascunho de Jefferson

 

5 comments:

Liliane Silva said...

In order to condemn the British intervention in the American politics and laws, "The Declaration of Independence" makes an interesting use of personal pronouns. Often using the second-person plural as a form of reinforcing the idea that the country is to be completely independent of their connections to Great Britain and affirming the nation's identity. Expressions like "the good people of these colonies" serve to commend the people's characters. This is particularly effective after the criticism of the king of Great Britain. Listing all of his attempts at stifling the American economy, their political freedom and the safety of the citizens. After openly declaring him a tyrant, the elevation of the American people's qualities seems that much more powerful. Although the rupture of international connections is extremely important in this document, so is the listing of all future rights the inhabitants of the United States must acquire and maintain: "life, liberty and the pursuit of happiness". This, to me, summarizes the most important message "The Declaration of Independence" has to offer: the valorization of the human being and our rights, the base of current western values.

Beatrice Berto said...

“The Declaration of Independence” é um dos documentos mais importantes na história dos Estados Unidos, representando um passo oficial dado pelas colónias americanas em direção à independência do domínio britânico sob a monarquia do Rei Jorge III.
Esta declaração marcou, de facto, a criação de uma nova nação fundada com base em princípios fundamentais: direitos inalienáveis, intervenção limitada do estado, a capacidade de alterar ou abolir governos opressivos, mas sobretudo o direito à vida, liberdade e igualdade.
Para reforçar estes ideais é estabelecida linguisticamente e ideologicamente uma nítida separação entre o lado americano e o britânico, através do pronome da 1ª pessoa do plural, “we”, o pronome de 3º pessoa do singular masculino, “he” e consequentemente os relativos deíticos pessoais ("us", "our", "him", "his"). É, assim, delineada uma clara divisão entre o território que propiciará “safety”, “happiness” e “security” e uma ex-pátria que apresenta uma história de “injuries”, “usurpations”, “abuses”, “tyranny” e “despotism”. Desta forma, são minuciosamente plasmados os campos semânticos da verdade (“truths”, “facts”, “candid world”) e da mentira (“falsehood”), que ao longo do texto chocarão um contra o outro num jogo de juízo moral.
A noção de falsidade é enfatizada pela enumeração criada através de uma estrutura paralelística e formada pelo sujeito masculino, “he”, seguido pelo “present perfect”. A posição enfática do pronome e a sua repetição anafórica correspondem a um potente recurso retórico que, ao gerar uma cadência ritmada, criam um crescendo sonoro e semântico de forte impacto que culmina, ao meu ver, com a seguinte frase: “He has plundered our seas, ravaged our coasts, burnt our towns, and destroyed the lives of our people.”
O excerto acima citado representa, para mim, um momento paradoxal da Declaração de Independência em que os colonos, pela primeira vez, passam de invasores a invadidos, de carnífices a vítimas. Rodeados por uma ameaça avassaladora, os futuros EUA se encontram a fazer frente a um inimigo próximo e longínquo, ao mesmo tempo. Por esta razão, os próprios súbditos ingleses, ao longo do texto, são distanciados gradualmente pelo locutor coletivo, passando de “friends”, “brethren” (relaxão de proximidade), para “fellow citizens” (relação neutral) e, por último, para “enemies” (relação de ódio).
Todos os argumentos utilizados para justificar a separação americana sustentam-se na noção de igualdade que Thomas Jefferson propõe como princípio basilar do Novo Mundo, afirmando que “all men are created equal”. No entanto, é necessário perguntarmo-nos até que ponto tal afirmação seja verdadeira, de outro modo, a que homens Jefferson se refere. O autor parece sublinhar a ideia de que os colonos americanos, como povo, tinham o mesmo direito de soberania e autodeclararão e que, portanto, podiam declarar a própria independência, criar um novo governo e posicionar-se no panorama mundial enquanto nova nação. Neste sentido, “the merciless Indigenous savages” não eram minimamente considerados suficientemente dignos de tal igualdade, pelo contrário, continuavam a ser vítimas de uma aspirante sociedade igualitária com práticas racistas. Notamos, deste modo, como um documento do século XVIII consiga descrever, ainda hoje, uma América intrinsecamente contraditória.

Carolina Jorge said...

(1/2)
A Declaração da Independência dos Estados Unidos da América (EUA) é um texto iluminista redigido em 1776 que teve um forte impacto na vida política ocidental.
Este documento pode ser dividido em cinco partes: a introdução, o preâmbulo, as queixas contra o Rei, acusações ao povo britânico e a conclusão. Contudo, há quem faça a divisão em três partes: preâmbulo, queixas e conclusão.
Este texto está embebido em retórica iluminista. Logo no início, com a expressão “When, in the course of human events”, é introduzida uma dimensão humana à questão, dando ênfase aos direitos naturais e ao senso comum, conceitos iluministas. Os direitos naturais são explicitamente incluídos pouco depois, nas expressões “natural rights” e “Nature's God”. Os direitos naturais do homem foram introduzidos na cultura anglo-saxónica pelo filósofo iluminista John Locke. Já o conceito de “common sense” (ou senso comum) foi introduzido por Thomas Paine, que colaborou tanto na revolução americana como na revolução francesa. Adicionalmente, este conceito está presente na Declaração da Independência na frase “We hold these truths to be self-evident”. Deste modo, vemos a influência iluminista no texto.
O principal redator deste documento foi Thomas Jefferson, na época, com 22 anos, pelo que era bastante radical até para a ocasião. Por esta razão, na revisão do seu texto, muitas coisas foram alteradas, acrescentadas e até mesmo suprimidas.
A primeira alteração é a substituição da palavra “expunge”, que significa “erradicar”, pela palavra “alter” que, não só é uma palavra mais suave, menos radical, como também é uma palavra mais comum. A palavra “expunge” é mais erudita, mais comum nos círculos mais cultos e das pessoas mais ricas. Contudo, este documento, apesar de ter sido escrito por um homem, revisto por outros tantos e assinado ainda por mais, é a voz de um povo inteiro, não é só queixas de um grupo de homens ricos que estão aborrecidos.
Por esta razão, muitos segmentos do texto original foram também removidos, tornando a linguagem do texto muito mais direta e rigorosa. O objetivo é não deixar a impressão de que a questão se resume a um grupo de homens ricos que, novamente, não têm mais nada para fazer. Não se trata de um capricho. Assim sendo, não é necessário dizer “repeatedly [and continually]”.

Carolina Jorge said...

(2/2)
Noutros casos, como em “He has made judges dependent on his will alone”, podemos ver “our” dentro de parênteses retos, ou seja, foi removido, demonstrando que a corrupção do Rei e o abuso de poder são comuns a todo o reino, talvez até ao império inteiro.
De seguida, a expressão “by a self-assumed power” foi retirada, porque se referia aos poderes do Rei que, na época, eram de origem divina. Saliento mais um exemplo (apesar de não ser o último neste texto) : a palavra “states” é substituída pela palavra “colonies”, por uma questão de legalidade- ainda não se tratavam de estados independentes, apesar de ser por isso que lutavam.
Outro aspecto da Declaração da Independência que é importante destacar é o uso de pronomes pessoais: ao longo do texto, vemos uma oposição entre “we”, representando o povo americano das colónias, e “He”, representando o Rei. Deste modo, cria-se uma união entre o povo americano, mas não necessariamente contra o povo britânico (que é até referido como “British brethren”. A é contra o Rei, um Rei, de acordo com Jefferson, tão incapaz que nem sequer merece ser referido por nome.
As figuras de estilo presentes neste documento são muito bem escolhidas e utilizadas para enfatizar as mensagens que estão a ser transmitidas, nomeadamente, no que concerne aos actos do Rei e ao desejo fundamentado de independência. No primeiro caso, a anáfora de “He has” (ocorre 16 vezes), na secção das queixas, torna esta parte quase como numa acusação criminal formal. Uma destas repetições, “He has plundered our seas, ravaged our coasts, burnt our towns, and destroyed the lives of our people”, o uso de “our” cria e enfatiza a separação entre os colonos americanos e o Rei Britânico, e a musicalidade torna esta acusação mais memorável. Outro elemento que torna esta frase mais memorável é a utilização de palavras duras e fortes: “plundered”, “ravaged”, “burnt” e “destroyed” são todas palavras impressionantes utilizadas para criar no povo e na audiência uma sensação exacerbada de injustiça e de união justificada contra o Rei.
Concluindo, os elementos retóricos utilizados na Declaração da Independência transformaram-na num documento basilar na história não só dos EUA, como também serviram de inspiração para outras revoluções e movimentos de autodeterminação por todo o mundo.

EU & literatura said...

A Declaration of the Representatives de Thomas Jefferson, redigida em 1776, é um documento fundametal da história dos Estados Unidos da América, destacando as razões que justificavam a independência das colônias americanas. Jefferson usa estratégicas linguísticas para defender estas mesmas razões.
Jefferson faz uso intenso dos pronomes pessoais, especialmente “we” e “they”. O “we” é usado para unir as colônias americanas, enquanto o “they” é usado para se referir ao governo britânico. Isto cria uma clara distinção entre o povo americano e o governo opressor. O uso dos pronomes pessoais, como “us” e "our", cria uma ideia de identidade coletiva, fortalecendo a unidade entre os representantes e o povo. Jefferson incorpora, ainda, várias figuras de estilo, como a anáfora, “He” para apontar as ações injustas e tirânicas do Rei Jorge III do Reino Unido. Aqui a repetição do pronome “He” é usada para enfatizar as transgressões e abusos específicos cometidos pelo rei, destacando as razões pelas quais as colônias americanas estavam justificando sua independência.
Palavras como “liberty” , “unalienable Rights”, “tyranny”, e “oppression” formam campos semânticos que estão ligados aos valores e ideais que inspiraram a independência. Estas palavras ajudam a estabelecer uma narrativa que justifica a separação das colônias americanas do domínio britânico.
Jefferson descreve os súditos americanos como pessoas que têm direitos inalienáveis, incluindo a busca da felicidade. O governo britânico, por outro lado, é retratado como tirânico e opressivo, violando os direitos fundamentais. Esta dicotomia cria uma razão/justificação moral e filosófica para a independência. Jefferson retrata os súditos americanos como vítimas de um governo tirânico, usando termos como injustiça e opressão. A descrição do rei como “A Prince whose character is thus marked by every act which may define a Tyrant” justifica a rebelião.
As correções e omissões no rascunho de Jefferson revelam o cuidado na escolha de palavras uma maior compreensão. A exclusão de certas passagens e a inclusão de outras refletem destaca as complexidades políticas, enquanto as correções refletem a busca pela precisão e impacto no discurso. Isto destaca a importância dada à escolha de palavras e à formulação precisa das ideias para maximizar o impacto do documento.
Em suma, a declaração não é apenas um argumento lógico para a independência, mas também uma demonstração da habilidade de Jefferson em manipular a linguagem para influenciar emoções e perspectivas.

Bárbara Soares