Tuesday 20 September 2022

T.P.C. 27 Setembro: William Apess, "An Indian's Looking Glass for the White Man" (1833)

Escolha um excerto de cerca de dez linhas (indicando-o de forma reconhecível) para fazer uma análise de texto.

Tópicos de análise:

- Tema(s) e estrutura

- Sujeito de enunciação

- Importância do texto no contexto da obra e época do autor

- Efeitos linguísticos (adjetivos, colocações, uso de deíticos, redes semânticas, colocações, jogos de palavras, etc.)

- Recursos estilísticos e seu efeito

- Simbolismo

- Narratário / público leitor

- intertextualidade com outros textos da disciplina








6 comments:

Inês Ramos said...

No sétimo parágrafo do texto “An Indian´s Looking-Glass for the White Man” de William Apess, temos presente a ideia sobre o racismo, no qual o autor tem como alvo a crítica aos cristãos brancos, intensificando a ideia de desigualdade presente na época. Para tal, neste pequeno excerto, um dos elementos que mais se destaca é a recorrência à técnica literária "authorial intrusion". Através da mesma, é estabelecida uma “relação” entre o narrador e o público leitor “But, reader, I acknowledge…” para a qual contribuem os dêiticos pessoais “I” e “You” “let me ask you, white man” como forma de sobreposição e crítica sob a audiência. Para além disso, adjetivos como "confused, disgraced, worse" têm também a sua contribuição para um tom cada vez mais crítico por parte do narrador. De modo a salientar o racismo existente, Apess faz uso de alguns recursos expressivos como é o caso da metáfora “I am not seeking for office” o que remete para o facto de este não estar à procura de refúgio, de desculpas neste mundo confuso; a hipérbole em “ten times blacker” e “ten times worse” assim como a aliteração através do som “t” remetendo para um jogo de sons; a repetição de várias palavras ao longo do excerto, tais como “skins” “disgraceful” e as várias menções a cores “white, black, red” com o objetivo de tornar o texto mais visual para o leitor. Tudo isto que Apess afirma tem como pano de fundo um toque de ironia cuja finalidade é despontar vergonha no leitor. Apesar de neste excerto ainda não ser muito recorrente, é possível identificar a presença de uma pergunta retórica “Now let me ask you, white man, …” um mecanismo que vai aumentando ao longo de todo o texto. Através deste texto, o autor mostra como o retrato do racismo existente na América é bastante claro na época, lutando portanto por uma sociedade justa e isenta de desigualdades tal como está expresso na Declaração da Independência de Thomas Jefferson “... that all man are created equal…”. Também o cristianismo é alvo de críticas, no qual Apess relembra que foi a raça branca que cometeu os crimes mais horrendos.

Sofia Alves said...
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Sofia Alves said...
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João Pedro Lima said...

No início do oitavo paragrafo, "Now let me ask you white man..." é uma interrogação retórica que pretende, por um processo de introspeção, mostrar aos homens brancos da altura a hipocrisia do seu racismo quanto autoproclamados cristãos. Pois, segundo a doutrina cristã, todos os seres humanos são criações de Deus, no entanto os cristãos americanos revelam uma aversão aos Índios nativos (presente nas suas leis e na própria declaração de independência), que no fundo são uma das criações de Deus.
De seguida, William Apess expõe a arrogância dos americanos de pensarem que "the white man (...) are the only beloved images of God..." (ideia apoiada pelo facto do apoio de Deus ser um topos prevalente da retórica americana, especialmente na declaração da independência).
Ademais, Apess ridiculariza a atitude de superioridade cultural e moral que a raça branca tem perante as outras, salientando exemplos de vários atos criminosos que esta mesma cometeu.
Nesta demonstração dos males da colonização e escravatura americana, Apess recorre a uma referência intertextual á declaração da independência: "...of their lawful rights, that nature and God require them to have..." Esta referência evidencia a hipocrisia presente na sociedade americana. A declaração, por um lado afirma que todos homens são criados iguais, possuindo direitos inalienáveis, por outro, o governo americano trespassa sobre os direitos das outras raças (escravatura, leis anti indianas, etc...).

Miguel Ponte said...

No décimo primeiro parágrafo, está claro o público-alvo a quem Apess se quer dirigir: “my white brother”, ou seja, a população branca nos EUA. A escolha da palavra “brother” é deliberada, na medida em que, segundo a Bíblia, todos os seres humanos, sem mencionar a cor das pessoas, são iguais, e irmãos, perante Deus. Aqui, o autor pretende realçar a questão de que somos todos irmãos, mesmo que não tenhamos ligações sanguíneas uns com os outros e partilhemos a mesma cor de pele. De certa forma, chama-nos a atenção para o facto de que os brancos, que se dizem cristãos, estão a contrariar o próprio cristianismo.
Outro aspeto que Apess aponta, e condena, neste parágrafo, é a proibição da miscigenação entre brancos e não-brancos (nativos, em particular), que foi imposta por lei no estado de Massachusetts. Refere que a única maneira dos nativos americanos merecerem algum respeito e status social na sociedade branca dos EUA, que domina o país, é misturarem-se com os brancos através de casamentos interraciais: “I can assure you that I know a great many that have intermarried, both of the whites and Indians - and many are their sons and daughters - and people too of the first respectability.” No entanto, a dado momento, a possibilidade dos índios se casarem com brancos, e vice-versa, tornou-se impossível, ilegal e ilegítima: “You may look at the disgraceful act in the statute law passed by the Legislature of Massachusetts (...).” Os “law makers” a que Apess se refere argumentam que tais uniões interraciais são impuras e não-naturais, uma visão que diria ser “proto-darwinista”. No parágrafo abaixo, o autor defende que os “law makers” não são ninguém, nem Deus, para decidir com quem as pessoas se podem, ou não, casar.

Diana Calado said...

No oitavo parágrafo de "An Indian's Looking-Glass for the White Man", de William Apess, o leitor é confrontado com a dureza da realidade racista dos Estados Unidos da América. Por um lado, o autor critica com severidade a supremacia branca ao acusar os representantes de uma arrogância que em nada corresponde aos valores cristãos que os mesmos afirmam defender. Para isto Apess recorre a termos de origem religiosa como "image of God", bem como ao imaginário cristão aludindo ao dia do Julgamento Final onde todos serão julgados pelos actos cometidos em vida. Por outro lado, o autor acusa com veemência os homens brancos de serem das "nações" portadoras dos maiores crimes jamais cometidos contra outros povos. A fim de enfatizar esta ideia, Apess recorre a termos relacionados com a Justiça como "crimes", "robbing","murdering", e "lawful rights". Deste modo, o que o autor expõe torna-se, não só um "queixume" perante a violência cometida, mas um verdadeiro caso a ser julgado pelas autoridades, e talvez, em última instância, pela autoridade divina.
Para além disto, vale a pena analisar o modo como William Apess utiliza os pronomes pessoais. Por um lado, como sujeito de enunciação, o autor recorre à primeira pessoa do singular, "I", quando deseja interpelar directamente o leitor, ao mesmo tempo que utiliza a segunda pessoa do singular, "you", para poder identificar claramente o narratário, neste caso o Homem Branco. Tome-se o exemplo da frase que inicia o parágrafo, "Now let me ask you, white man", onde um certo tom coloquial, e com o ênfase no agora ("now"), transmitem a urgência do discurso que não olha a meias palavras para criticar as injustiças. Também o recurso a pronomes como "us" e "they" aprofundam o fosso social que existe entre a comunidade branca e outros povos, nomeadamente os indígenas americanos. Este afastamento é ainda reforçado pela descrição dos crimes cometidas pelos brancos contra os índios. No entanto, não deixa de ser interessante notar que os termos já mencionados em volta da criminalidade surgem em oposição aos direitos reclamados por Apess para o seu povo ("their lawful rights, that nature and God require them to have"). Esta referência pode ser vista como uma alusão e crítica à Declaração da Independência redigida por Thomas Jefferson onde é defendida uma sociedade igualitária e libertária que, na verdade, acaba por exluir grande parte da sociedade norte-americana, todos aqueles que não sejam brancos e do sexo masculino.
Em suma, o parágrafo apoia-se numa técnica de questionamento consecutivo, através de interrogações repetitivas, que pretende alertar o leitor, nomeadamento a comunidade branca, para as incoerências a que se submetem constantemente. Ao apresentar uma série de ideias paradoxais, como a religiosidade dos brancos vs. a barbaridade da violência contra os seus semelhantes, ou a afirmação da igualdade e liberdade para todos numa sociedade racista e patriarcal, William Apess revela as fraquezas de uma nação que vive sustentada por valores antigos e inflexíveis, ainda que se afirme progressista e inovadora. Obras como esta contribuem, por um lado, para a sua contemporaneidade por defender aqueles que não possuem voz e são marginalizados pelo poder regente, e por outro lado, são fundamentais na actualidade a fim de que possamos ter uma visão mais diversificada e menos tendenciosa dos conflitos da época.