Sunday 11 December 2016

Escrita Criativa de Francisca Matos

Caro Henry,
A felicidade é dos que trepam por escadas de incêndio e caminham por telhados lisboetas, miradouros improvisados quando a Senhora do Monte está cheia de turistas. A felicidade é de quem se refugia à beira de um lago e é livre, tendo os pássaros como vizinhos e encarando as manhãs como um convite para uma vida simples e inocente. A felicidade é de quem tem tempo.
Henry, invejo-te  - o tempo é uma catástrofe sagrada de relógios heirloom que não cabe no meu pulso. Adormeço no comboio com os livros sobre as pernas em vez de os ler. Manhãs desperdiçadas. As minhas manhãs deveriam ser passadas da seguinte forma: apanhar um comboio e passar a hora a ler os pensamentos dos outros - quando o sol está escondido e as estrelas cessam de brilhar, acendemos os candeeiros antigos, como Emerson dizia aos scholars. De seguida, trocar de linha - apanhar o comboio no qual eu sou a única passageira. Este comboio, é o comboio do meu próprio pensamento e o seu destino é incerto, até agora um acaso incompreensível.  A questão, Henry, é se chegarei ao meu próprio Walden, e se sim, onde. Será nesse Walden que ganharei coragem de escrever, de falar, de decidir?
Acredito firmemente que as coisas são extraordinárias. Se disser a palavra “pavimento” surgirão imagens diferentes nas nossas mentes e isso é extraordinário. Pensei nisso durante uma viagem de comboio. No entanto, é como te digo, falta-me tempo e coragem. O que não me falta é medo, de chegar ao destino desse comboio só meu e encontrar tudo diferente.
Não sei ao certo porque te escrevo.

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Francisca

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