Caro
Henry,
A
felicidade é dos que trepam por escadas de incêndio e caminham por telhados
lisboetas, miradouros improvisados quando a Senhora do Monte está cheia de
turistas. A felicidade é de quem se refugia à beira de um lago e é livre, tendo
os pássaros como vizinhos e encarando as manhãs como um convite para uma vida
simples e inocente. A felicidade é de quem tem tempo.
Henry,
invejo-te - o tempo é uma catástrofe
sagrada de relógios heirloom que não
cabe no meu pulso. Adormeço no comboio com os livros sobre as pernas em vez de
os ler. Manhãs desperdiçadas. As minhas manhãs deveriam ser passadas da
seguinte forma: apanhar um comboio e passar a hora a ler os pensamentos dos
outros - quando o sol está escondido e as estrelas cessam de brilhar, acendemos
os candeeiros antigos, como Emerson dizia aos scholars.
De seguida, trocar de linha - apanhar o comboio no qual eu sou a única
passageira. Este comboio, é o comboio do meu próprio pensamento e o seu destino
é incerto, até agora um acaso incompreensível.
A questão, Henry, é se chegarei ao meu próprio Walden,
e se sim, onde. Será nesse Walden que ganharei coragem de escrever, de falar,
de decidir?
Acredito
firmemente que as coisas são extraordinárias. Se disser a palavra “pavimento”
surgirão imagens diferentes nas nossas mentes e isso é extraordinário. Pensei
nisso durante uma viagem de comboio. No entanto, é como te digo, falta-me tempo
e coragem. O que não me falta é medo, de chegar ao destino desse comboio só meu
e encontrar tudo diferente.
Não
sei ao certo porque te escrevo.
-->
Francisca
No comments:
Post a Comment