Monday, 13 May 2013

Mark Twain - Jumping Frog (Catherine e Joel)


Mark Twain era o pseudónimo usado por Samuel Langhorne Clemens enquanto escritor de sketches humorísticos. “Mark twain” é a profundidade de água mínima para um barco a vapor navegar e, na caneta de Samuel Clemens, era a voz satírica do pretensiosismo aristocrata.
Assim, em 18 de Novembro de 1865, “Jim Smiley and His Jumping Frog”, o conto que chamou a atenção do público para Twain e um dos contos mais populares da sua carreira, foi publicado num jornal nova-iorquino, o New York Saturday Press.
Jumping Frog” é um exemplo de tall tale, um conto em moldura (frame story) tradicional no sudoeste americano, em que uma história é relatada dentro de outra. Neste conto, usa-se a ficção para criticar ou descrever situações não-ficcionais contemporâneas, distinguindo-se ao nível estilístico pelo discurso vernacular. Este tipo de narrativa oferece profundidade à história através da multiplicidade de ouvintes e narradores. No entanto, é a combinação deste tipo de narração com deadpan humor – “To me, the spectacle of a man drifting serenely along through such a queer yarn without ever smiling was exquisitely absurd” – que permite a diversidade de leituras deste conto. Inicialmente, pode parecer confuso ou insignificante, mas o contraste entre Este e Oeste, criado através da voz dos narradores, e os possíveis paralelos entre ficção e não-ficção são apenas parte do seu interesse.
Em “Jumping Frog”, Twain é o narrador do Este americano que, com um registo discursivo elevado, simboliza os Easterners civilizados, denunciando em diversos instantes a opinião estereotipada que estes tinham dos Westerners, ao descrever Wheeler, o outro narrador, como “fat and bald-headed”, habitante de uma povoação mineira decadente, preguiçoso, “dozing comfortably by the barroom stove of the little old dilapidated tavern (…).”
É a narrativa de Wheeler, o Westerner simplório, que se sobrepõe nesta história à narrativa do Easterner educado (que se aborrece e não consegue captar o humor do relato de Wheeler por se sentir superior a ele), ganhando a atenção do leitor através do discurso vernacular exagerado que dá ao relato o seu tom humorístico. A busca de Leonidas W. Smiley – que, sendo reverendo, também tem educação e proeminência social – perde toda a importância, e o interesse do leitor passa a ser dirigido a Jim Smiley, um gambler com uma sorte invulgar, capaz das apostas mais absurdas. O narrador vai tão longe ao ponto de pensar que Leonidas W. Smiley é de facto um mito, e que Ward lhe terá pregado uma partida, uma vez que nunca falaria com alguém como Wheeler se soubesse o que iria suceder.
A caracterização de membros da sociedade que normalmente seriam desprezados viria a ser desenvolvida por diversos outros autores, dentro dos quais podemos referir Charles Dickens, na Inglaterra do século XIX, ou Herman Melville, entre tantos outros. Twain deixaria um legado igualmente importante, na caracterização natural e realista de locais, de pessoas e da língua
Para que o leitor captasse a pronúncia local, Twain transformou o inglês padrão, reforçando a oralidade de cada personagem (de lembrar que Twain teve contacto directo com falantes que viviam nas margens do rio Mississippi). Como exemplos, referimos “feller” em vez de “fellow”; o uso de “curiosest”, declinação errada do adjectivo “curious”, que no contexto da frase deveria ser “the most curious man”; a repetição da expressão “he’d bet on it” e “he would bet you”, assim como a enumeração nas diversas apostas – “dog-fight”, “cat-fight”, “chicken-fight”, para ilustrar a tendência excessiva de Smiley para o jogo; a dupla negação “never made no difference to him”, que, embora seja redundante, reforça a ideia; “warn’t going”, ao invés de “wasn’t/was not going”; a conjugação errada do verbo “to come” no passado (“he come in” é preferido a “he came in”); “inf’nit”, em que o falante ignora a existência da vogal ; a escolha do verbo “to say”, conjugado no presente do indicativo (“says”), para introduzir diálogo, contrastando com o pretérito perfeito usado ao longo da narração; a palavra “more” soletrada como “m-o-r-e”, que parece indicar uma leitura com maior enfase, tal como em palavras em itálico que vão surgindo.
Uma das histórias acerca de Jim Smiley envolve um pequeno bulldog, chamado Andrew Jackson, no qual ele apostava em lutas de cães. Como o cão era pequeno, todos apostavam contra ele, mas o cão resistia a todos os ataques e, no final, atacava os rivais, ferrando os dentes nas suas patas traseiras e aguentando-se dessa forma até ao final da luta, vencendo as apostas através de tenacidade. Andrew Jackson também é o nome do sétimo presidente dos EUA e o primeiro Westerner a ganhar as eleições, governando de 1829 a 1937. Embora tenha lutado pelo direito ao voto em todos os estados do Oeste e contra a aristocracia (na sua perspectiva) anti-democrática do Este, conquistando o cidadão comum, Jackson era um slaveholder, apoiando a escravatura e levando à expulsão dos Índios americanos dos seus territórios para Oklahoma. 
A história seguinte, e a que dá o título a este conto, é a de um sapo chamado Dan’l Webster. Na perspectiva de Smiley, “all a frog wanted was education” Daniel Webster é também o nome de um senador de Massachusetts. À semelhança  do senador, reconhecido como um dos maiores de sempre, cujos discursos fizeram parte da educação americana como exemplos de grande oratória, Wheeler descreve Dan’l Webster como um sapo “so modest and straightfor’ard (…), for all he was so gifted.” No entanto, ao chegar um estranho à povoação, este não vê no sapo nada que o distinga dos sapos comuns e, enganando Jim Smiley, enche a boca de Dan’l Webster com chumbo para que não salte, vencendo assim a aposta com um sapo vulgar.
Revela-se neste episódio algo curioso que distingue Smiley da figura do estranho. Enquanto o estranho optou por fazer batota (talvez por não ter senão outra opção e por querer realmente o dinheiro), Smiley conjugava artimanhas para ganhar, mostrando um forte sentido de perseverança no treino dos seus animais.
Neste conto, encontramos muitas das características que marcaram a escrita de Mark Twain – o narrador sem sentido de humor, o discurso vernacular (que veio a influenciar toda a Literatura Americana e a aceitação das vozes não-padrão na literatura, libertando a prosa das restrições que caracterizavam a literatura elevada), a sátira política, a sátira à sociedade burguesa americana e o protesto socialmente aceitável (enaltecendo as características positivas e expondo as negativas) através da comédia.


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