Em
Tanglewood Tales for Boys and Girls, publicado em
1853, Nathaniel Hawthorne reconta mitos gregos clássicos para uma nova geração.
No momento da escrita do mesmo, os leitores mais jovens eram apenas instruídos
de uma forma extremamente religiosa e conservadora, não havendo meios para
poderem descobrir contos mitológicos, particularmente se fossem tão antigos
como estes gregos retratados na antologia referida. Por facilitar o acesso de uma
geração a tais tesouros culturais e permitir um contacto entre tais documentos
literários e as camadas mais e menos jovens de outrora, a importância desta
coleção torna-se, à partida, indiscutível.
No
conto The Minotaur, Hawthorne narra a estória de
Teseu, criança tenaz e destemida, e da sua viagem pela Grécia até à presença de
seu pai, o rei Egeu, acabando por o vir a suceder depois da sua morte, enquanto
o filho regressava da batalha vitoriosa contra a besta do rei Minos, o
Minotauro. Trata-se então de recontar a lenda de um dos melhores exemplos de um
herói grego, que, para além da sua audácia e valentia, nunca se esquece de
tentar reunir o seu reino e a sua família. Justo, bom e disposto ao sacrifício
pessoal em prol da sobrevivência do povo de seu pai, acaba por se tornar num
rei bondoso e compreensivo, um exemplo de monarca.
Esta
é então uma das razões pelas quais decidimos fazer a comparação da conquista
pessoal de Teseu com a luta americana pela independência. Os valores positivos
possuídos por Teseu também podem ser referidos quando falamos da jovem América,
lutadora, brava e de vontade impossível de demover. De notar também a união de
todos os concidadãos, empenhados na reestruturação e independência da sua
terra.
Outros
elementos do enredo deste conto fazem também lembrar acontecimentos
particulares desta época da História: O incentivo de Etra, apesar dos seus
receios, que dá início a epopeia; o percurso e provações enfrentadas e
conquistadas pelo protagonista; a guerra entre o rei Egeu e o rei Minos, que
serve de palco temporal para a acção; a ajuda inesperada de Ariadne e a derrota
do Minotauro – a suprema provação, apenas vagamente humana. Foi-nos possível
percorrer então todos os passos na criação dos Estados Unidos da
América através de comparação entre as personagens da obra e figuras históricas
– rei George III, George Washington; metafóricas – valores incutidos no jovem
guerreiro, o ideias que o guiaram e motivaram no labirinto; colectivas –
antepassados do povo americano, soldados britânicos invasores; e, inclusive, com acontecimentos reais
– Boston Tea Party ( o Gigante de Bronze ) e a conquista da independência por
parte doas colónias revoltosas (queda do Minotauro).
A
tragédia final de Egeu relembra-nos então um tema recorrente na mitologia grega
– o engano/erro trágico: mesmo depois de toda a coragem e indulgência
demonstrada pelo herói ao conquistar as provações impostas à sua pessoa, bastou
um mero erro, provocado pela sua inebriada celebração, acabando por custar a
Teseu alguém que ama e que o ama. Existe então uma mudança caprichosa do papel
de rei de Atenas, facilmente associado à queda das colónias subjugadas e ao
erguer da potência dos E.U.A., fruto de erro inimigo, da vontade de um povo ou
devido à pura necessidade de mudança. Neste ponto somos propositadamente
imprecisos e deixamos a resposta e consequente associação à invulgar sucessão
do trono de Atenas ao discernimento do leitor.
A
alteração operada ao final da nossa interpretação da narrativa, onde Américo
(Teseu) acaba por se ver novamente perdido no labirinto (representante das
incertezas do futuro do povo que motivou a revolução), reflecte a desunião
constante da América como um todo e a decrepitude progressiva dos valores que a
ergueram. Uma guerra civil, recessões económicas frutos do capitalismo em massa
e uma gestão quase imperial da sua política estrangeira, entre outros factores,
a nosso ver, assim o vieram a provar.
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