Caro Edgar Allan Poe,
Devo dizer que já li e reli várias vezes
o seu poema “The Raven” e, de certa forma, há algumas coisas que me
desagradam. No entanto, confesso que a forma de construção do poema está
bastante interessante, o que acaba por emanar um sentimento de pura atracção
para qualquer leitor de bons poemas. O que, do meu ponto de vista, está muito
engraçado são as terminações de palavras que rimam na perfeição. A última
estrofe é a que mais me cativa por duas razões: primeiro, porque indica o
culminar do sofrimento sentido ao longo de todo o poema; segundo, porque a sua
leitura tem uma melodia muito bonita, com todas as rimas nela presentes, mais
precisamente o facto de rimar uma palavra interna (como flitting) com outra em
posição final de verso (como sitting). Este argumento pode
parecer suspeito, uma vez que estou a dizê-lo conforme a minha opinião pessoal,
mas tenho a certeza que há muitos outros entendidos em poesia que pensam o
mesmo que eu.
Passando às críticas, acho uma grande
falta de respeito a ideia que acaba por transmitir com este mesmo poema. A mim
parece-me que o Poe é um homem de poucos sentimentos. Gostaria que houvesse
alguém (ou algo, num mundo fantasiado como em “The Raven”) que o
incomodasse tão brutamente aquando da perda de alguém que lhe é querido? Com
certeza que já presenciou uma morte, visto que todos à sua volta parecem estar
amaldiçoados… O luto é algo que, por vezes, faz-se melhor sem a companhia de
ninguém. O luto é algo que implica reflexão anterior. No seu poema, a ideia que
o leitor retém é a de pressão. Pressão em querer que a pessoa sofra em vez de
seguir em frente. Tenho a certeza que o senhor Thomas Jefferson não estaria
nada de acordo com esta sua perspectiva maliciosa e cruel. No seu texto “Declaration
of the Representatives of the USA”, ele refere o tema da felicidade como
sendo algo a ser atingido por toda e qualquer pessoa.
Apesar de ele o afirmar baseando-se noutros factos, penso que o objectivo é o
mesmo: atingir a felicidade pura e plena. Ora, “The Raven” não está de
acordo com isto! O símbolo da morte (o corvo) só causa mais dor ao sujeito poético.
Não o permite continuar a sua vida, mas sim cavar um vazio ainda mais fundo no
seu coração. Esta é então a primeira crítica a este seu trabalho. Pense nisto,
se lhe interessar.
A segundo crítica que tenho a fazer diz
respeito à sua escolha do animal (o corvo). Já ouviu falar de Ralph Waldo
Emerson? Se sim, então há grandes possibilidades de conhecer o seu magnifico
trabalho. Bem, este escritor americano foi sem dúvida um dos que mais valorizou
a vida, a natureza e o presente. Ele afirmava que o lado bom da vida era viver
no momento presente e não no passado ou sem acções concebidas no passado.
Afirmava também que ele apenas se interessava pelos vivos (“my business is
with the living”). Quanto a isto, nada parece estar errado no seu poema,
certo? Poe escolheu um animal vivo para ser a fonte emissora da palavra Nevermore. O problema,
neste caso, é que há uma grande convenção social de que este pequeno animal
representa a morte e/ou seja sinal de maus presságios, concedendo-lhe assim um
significado mais obscuro que a realidade. Para além do mais, o senhor
introduziu-o num poema que aborda o tema da morte. Dito isto, penso que Emerson
é um dos exemplos que Poe poderia ter seguido, visto que a emoção que iria
transmitir no poema seria uma bastante mais feliz. O próprio leitor sentiria o
mesmo.
Aqui termino a carta com a minha apreciação
ao poema “The Raven”. Aparte do que referi como críticas, o poema
está muito bem construído.
Lenore.
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