Wednesday 25 June 2008

Racismo em Huckleberry Finn de Mark Twain (post de Diogo Matos)

A obra de Mark Twain é considerada por muitos como o melhor artefacto literário americano de sempre. As estatísticas dizem que apenas Shakespeare é usado mais frequentemente nas salas de aula.

Repleto de sátira, aventura juvenil (podemos dizer que é uma obra de formação ou "coming of age") podemos encontrar no coração de Huckleberry Finn uma história sobre a relação entre um escravo e um rapaz. Apesar desta relação que aparenta passar uma mensagem anti-racista, o livro foi criticado por afro-americanos, o que até pode ser compreensível, pois a imagem que obtemos de Jim, o escravo, é algo básica devido a ser descrito como alguém algo básico, do ponto de vista intelectual. No entanto, quem nos dá esta descrição é um rapaz que foi criado por indivíduos extremamente racistas, e há que ter isso em conta. Para além disso, todos os escravos no Sul dos Estados Unidos estavam proibidos de obter educação. Há, portanto, que admitir que o retrato de Jim por Twain é realista.

Temos o exemplo do pai de Huck que se considera superior a um professor negro simplesmente pela sua cor de pele, uma cena que surge aquando da possibilidade de ser atribuído a este negro direito de votar.

Numa altura em que existia um grande ódio contra os negros por parte da América branca, Mark Twain criou uma história sobre a busca da liberdade. Não reconhecer isto e considerar que é uma obra racista demonstra na minha opinião uma mente fechada e intransigência.

10 comments:

Anonymous said...

Não penso que "Huckleberry Finn" seja amplamente considerada uma obra racista. A descrição de Jim é a de alguém bondoso que busca a liberdade. Penso que com esta obra Twain pretendia, exactamente, eliminar a ideia de sub-humano que havia sido instituída.

Anonymous said...

Concordo plenamente com a tua opinião. A obra não devia ser considerada racista pois como tu proprio disses-te é realista, ou seja, é uma descrição real da altura.
Huck é uma criança...em formação, que vive a sua vida numa altura bastante complicada da historia dos EUA, a liberdade dos escravos. Assim Huck, era influenciado tanto por aqueles que defendiam os ideais do norte e os ideias de escravatura do sul, independentemente de ter ajudado Jim a escapar.

Anonymous said...

Já agora...num sul onde o poder era algo essencial, haver um negro intelectual, com capacidades de tomar facilmente os cargos dos brancos era algo que este segundo não queria de maneira nenhuma, principalmente por ser alguem de outra cor.
Acho que todo o confronto racial na America nessa altura se baseava em medo de uma raça considerada inferior dominasse sobre a raça regente.

Anonymous said...

Não querendo ser eu considerado racista com o comentário que estou prestes a fazer, creio que é do meu entendimento que seja qual for o comentário/visão dado de uma raça sobre outra, será SEMPRE considerada uma forma de patronização ou diminuição.
Não precisa ser raça negra. Temos exemplos da etnia cigana, raças asiáticas, etc...
Não me espanta que a recepção da obra de Twain tenha sido um pouco "mal amada" por determinadas massas da população americana.

Anonymous said...

Concordo plenamente com as opiniões da Nádia e da Luisa. A meu ver, esta obra não pode de todo ser considerada racista, apesar de haver o retrato do negro marginalizado pela sociedade sulista da América. É isso que transmite realismo a obra.
No entanto, Huck poedria ser uma criança racista, visto ser educada por pessoas racistas, mas não o é, criando uma bela relação de companheirismo com Jim, lutando com ele pela liberdade, e é esse o ponto forte desta obra.

Anonymous said...

Concordo com a Nádia e Luísa, porém não posso discordar completamente dos outros. Na América este sentimento de completa aceitação da comunidade negra tem sempre dado muito que falar. Mesmo hoje em dia verificamos que nem todos se sentem completamente há vontade com este assunto. Acho que Twain tentou alertar que, sendo os Afro-Americanos negros, eles não deixam de ser Americanos. Até porque nesta obra, conseguimos perceber que também há "brancos" detestáveis e com o complexo de inferioridade, que é o caso do pai de Huck Finn. Penso que aqui já há uma grande complexidade na obra e um duplo sentido em "inferioridade". Por isso é que há a referencia ao pai, como aquele com quem nem o próprio filho quer viver; e Jim, o negro que entra nas aventuras e que se torna um grande amigo de Finn.
Penso que é isto que Twain tenta focar aos leitores. Ou pelo menos foi assim que eu interpretei a obra, como uma chamada de atenção, que "nem tudo é o que parece".

Anonymous said...

também sou da opinião de que "Huckleberry Finn" deja uma obra completamente racista.

é como o mundo de hoje, há pessoas e pessoas. Enquanto para o pai os negros não tinham direito a nada (e por si só a serem ninguém se não aquilo que nasceram para ser: escravos) para o Huck o Jim é apenas um amigo, um companheiro de viagem que tem um objectivo parecido com o dele. Ir para liberdade!

Anonymous said...

Concordo com os comentários da Nádia e da Luisa. Esta obra não pode ser considera racista mas sim como um "despertar" das mentes

Diogo Matos said...

nao disse que era amplamente considerada uma obra racista, disse que foi criticada por afro-americanos como sendo de facto racista. obviamente tambem nao concordo com essas alegações.

Anonymous said...

Talvez a intenção de Mark Twain fosse mesmo dar a entender a descriminação existente na época em relação aos negros. Abordou a história de uma forma bastante directa, mostrando aquilo que a sociedade impunha às pessoas brancas e negras. Por um lado os brancos, seguiam a norma da sociedade, vendo o homem negro apenas como escravo e "burro de carga". O negro era criado desde pequeno naquele ambiente violento e subversivo, tendo sempre em conta que era considerado inferior aos brancos. Já se condenava a escravidão em alguns estados naquela época, mas ainda era considerado normal em muitos outros. Twain apenas mostra-nos aquilo que a sociedade da época era.