Nos arredores de Nova Iorque, nas Montanhas
Catskill, num agradável dia de Sol, Haloke fazia aquilo que mais lhe dava
prazer nesta vida: passear ao mesmo tempo que vislumbrava a beleza e
grandiosidade das Montanhas. Haloke muito bem podia agradecer pelo facto de se
permitir a levar tal género de vida, enquanto a sua gente conhecia a maldade do
mundo e a dos homens brancos.
Haloke possuía nas suas veias sangue de Índios
por parte da sua mãe, a Xamã Kimana, e sangue britânico de seu pai Van Tesel –
um dos fazendeiros mais ricos da região. Van Tesel havia-se mudado de
Inglaterra em 1750 a fim de tentar a sua sorte no Novo Mundo. Escusado será
dizer que foi bem sucedido. Após ter uma relação amorosa com uma das suas
escravas índias, surgiu entre eles um filho bastardo: Haloke.
A decisão considerada mais acertada para
Van Tesel era esquecer tal “aventura” e o seu profano resultado. No entanto, o
agricultor ficara encantado pelo facto de os traços índios estarem ocultos na
aparência da criança. Assim sendo, Haloke foi acolhido pelo seu pai biológico;
mas, aos olhos de outros cidadãos, Haloke era filho abandonado de índios que
fora adoptado pela generosidade de Van Tesel.
Coberto por essa história, Haloke foi
criado e educado como um filho, por Van Tesel. Mas quando “tão bondoso”
agricultor caiu nas mãos da Morte, dezoito anos depois, Haloke foi considerado
o descendente e herdeiro dos bens e da propriedade de Van Tesel. Ainda assim,
Haloke nunca dera a mínima importância ao seu legado nem antes nem depois de o
receber. Viver pelo prazer e lazer era o seu lema de vida, quer isto dizer que
as suas grandes ocupações eram os longos e calmos passeios pelas montanhas.
Casou-se, pouco tempo depois, com uma
jovem de boas famílias. A nova Sra. Van Tesel era, ao contrário do seu marido,
uma mulher que adorava ver-se como senhora abastada de uma grande plantação,
ver o enorme lucro que daí provinha e ainda assim não fazer nada na vida.
Depressa isso mudou, pois ela percebeu que, para conseguir essas ambições,
tinha de ser ela própria a ficar de olho em tudo e dar as instruções visto que
Haloke, o seu marido, não ligava a nada a não ser a paisagem das montanhas.
Óbvio que Haloke era o único meio-índio
que possuía uma vida regalada e até tinha a sua própria plantação, ao invés do
resto do seu povo que continuava a viver na sombra dos homens brancos e – aos
olhos dos colonos – estes viviam em condições dignas de…selvagens. Mas, no
entanto, ninguém fazia nada para mudar essas situações. O próprio Haloke, uma
vez que estava no bar da vila, desprezou uma índia que implorava ajuda pela sua
filha que estava a morrer devido a uma epidemia dos homens brancos. Mãe e filha
foram corridas porta fora, pois não queriam lá selvagens, especialmente infecciosos.
Haloke até foi proclamado herói pelos seus amigos devido à façanha.
Um dia, Haloke saiu furioso de sua casa
porque a sua esposa queixava-se que as colheitas não estavam a sair bem e era
preciso que ele fizesse alguma coisa. Para Haloke, aquilo era demais, por
isso saiu e foi refugiar-se numa caverna no interior de uma montanha.
Lá ele encontrou três velhas índias que
lhe ofereceram uma bebida que iria livrá-lo de todos os seus problemas.
Ingenuamente, Haloke aceitou e bebeu a bebida. A última coisa que ele se lembra
é de ter fechado os olhos e dormir profundamente.
Quando acordou sentiu-se
extraordinariamente bem; há quanto esteve ele a dormir? A grande pergunta. Saiu
da caverna na montanha e voltou para a aldeia, grandes mudanças tinham
ocorrido: havia uma nova bandeira pendurada nalgumas casas, as riscas vermelhas
permaneciam mas já não havia o pequeno símbolo de Inglaterra mas sim um fundo
azul com um círculo de estrelas; em vez de figuras do Rei George havia um
retrato dum estranho homem que as legendas diziam ser o «GENERAL WASHINGTON».
Entrou dentro do Bar, ficando
surpreendido pelo facto de os empregados serem outros e não os seus velhos
conhecidos. “É pena os antigos donos disto terem morrido durante a Revolução,
eram gente boa. Conhecia-os desde criança.” Disse o novo dono do
Bar. Morreram durante uma Revolução? Mas ele só adormeceu durante umas horas.
Terá acontecido uma revolução e mortes num curto espaço de tempo?
“E agora pensam civilizar os índios
todos, mas estão é a obriga-los a saírem das suas terras. Algo me diz que ainda
serão os índios a prepararem revoluções contra nós. Há-de ser.” Comentou um
homem, que pouco depois voltou a falar: “Ainda não houve novas daquele tipo
o…Van Tesel? Há mais de vinte anos que ele desapareceu sem deixar rasto.
Coitada da mulher dele, morreu dois meses depois na rua e sem notícias dele.” Haloke ficou
despedaçado ao ouvir que a sua mulher havia morrido. Vinte anos esteve ele
adormecido, malditas índias, pensou ele.
De repente ouviram-se gritos e vozes a
gritarem: “O Haloke Van Tesel foi encontrado, está morto!”. Não!!! Também
ele estava morto, era por isso que a bebida o livrara dos problemas, matando-o.
Por isso dormira durante vinte anos.
Mas agora voltara e, no entanto, não
voltara. Acabou simplesmente por regressar à sua vida de andar pelas montanhas
enquanto o mundo atrás dele vivia vidas e mudanças. Ainda assim, algumas
pessoas acham que vêem o seu espirito solitário a caminhar, por entre as
montanhas, para sempre.
1 comment:
Well, congratulations Gonçalo for this great tale! Mixes a bit of the supernatural with the historical facts we are studying... Just interesting!
Really pumped me up to know more about the story and washington Irving himself.
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