Wednesday 20 February 2013

Haloke Van Tesel (trabalho criativo a partir de Rip van Winkle, de Gonçalo Henriques)

Nos arredores de Nova Iorque, nas Montanhas Catskill, num agradável dia de Sol, Haloke fazia aquilo que mais lhe dava prazer nesta vida: passear ao mesmo tempo que vislumbrava a beleza e grandiosidade das Montanhas. Haloke muito bem podia agradecer pelo facto de se permitir a levar tal género de vida, enquanto a sua gente conhecia a maldade do mundo e a dos homens brancos.


Haloke possuía nas suas veias sangue de Índios por parte da sua mãe, a Xamã Kimana, e sangue britânico de seu pai Van Tesel – um dos fazendeiros mais ricos da região. Van Tesel havia-se mudado de Inglaterra em 1750 a fim de tentar a sua sorte no Novo Mundo. Escusado será dizer que foi bem sucedido. Após ter uma relação amorosa com uma das suas escravas índias, surgiu entre eles um filho bastardo: Haloke.
A decisão considerada mais acertada para Van Tesel era esquecer tal “aventura” e o seu profano resultado. No entanto, o agricultor ficara encantado pelo facto de os traços índios estarem ocultos na aparência da criança. Assim sendo, Haloke foi acolhido pelo seu pai biológico; mas, aos olhos de outros cidadãos, Haloke era filho abandonado de índios que fora adoptado pela generosidade de Van Tesel.
Coberto por essa história, Haloke foi criado e educado como um filho, por Van Tesel. Mas quando “tão bondoso” agricultor caiu nas mãos da Morte, dezoito anos depois, Haloke foi considerado o descendente e herdeiro dos bens e da propriedade de Van Tesel. Ainda assim, Haloke nunca dera a mínima importância ao seu legado nem antes nem depois de o receber. Viver pelo prazer e lazer era o seu lema de vida, quer isto dizer que as suas grandes ocupações eram os longos e calmos passeios pelas montanhas.
Casou-se, pouco tempo depois, com uma jovem de boas famílias. A nova Sra. Van Tesel era, ao contrário do seu marido, uma mulher que adorava ver-se como senhora abastada de uma grande plantação, ver o enorme lucro que daí provinha e ainda assim não fazer nada na vida. Depressa isso mudou, pois ela percebeu que, para conseguir essas ambições, tinha de ser ela própria a ficar de olho em tudo e dar as instruções visto que Haloke, o seu marido, não ligava a nada a não ser a paisagem das montanhas.
Óbvio que Haloke era o único meio-índio que possuía uma vida regalada e até tinha a sua própria plantação, ao invés do resto do seu povo que continuava a viver na sombra dos homens brancos e – aos olhos dos colonos – estes viviam em condições dignas de…selvagens. Mas, no entanto, ninguém fazia nada para mudar essas situações. O próprio Haloke, uma vez que estava no bar da vila, desprezou uma índia que implorava ajuda pela sua filha que estava a morrer devido a uma epidemia dos homens brancos. Mãe e filha foram corridas porta fora, pois não queriam lá selvagens, especialmente infecciosos. Haloke até foi proclamado herói pelos seus amigos devido à façanha.
Um dia, Haloke saiu furioso de sua casa porque a sua esposa queixava-se que as colheitas não estavam a sair bem e era preciso que ele fizesse alguma coisa. Para Haloke, aquilo era demais, por isso saiu e foi refugiar-se numa caverna no interior de uma montanha.
Lá ele encontrou três velhas índias que lhe ofereceram uma bebida que iria livrá-lo de todos os seus problemas. Ingenuamente, Haloke aceitou e bebeu a bebida. A última coisa que ele se lembra é de ter fechado os olhos e dormir profundamente.
Quando acordou sentiu-se extraordinariamente bem; há quanto esteve ele a dormir? A grande pergunta. Saiu da caverna na montanha e voltou para a aldeia, grandes mudanças tinham ocorrido: havia uma nova bandeira pendurada nalgumas casas, as riscas vermelhas permaneciam mas já não havia o pequeno símbolo de Inglaterra mas sim um fundo azul com um círculo de estrelas; em vez de figuras do Rei George havia um retrato dum estranho homem que as legendas diziam ser o «GENERAL WASHINGTON».
Entrou dentro do Bar, ficando surpreendido pelo facto de os empregados serem outros e não os seus velhos conhecidos. “É pena os antigos donos disto terem morrido durante a Revolução, eram gente boa. Conhecia-os desde criança.” Disse o novo dono do Bar. Morreram durante uma Revolução? Mas ele só adormeceu durante umas horas. Terá acontecido uma revolução e mortes num curto espaço de tempo?
E agora pensam civilizar os índios todos, mas estão é a obriga-los a saírem das suas terras. Algo me diz que ainda serão os índios a prepararem revoluções contra nós. Há-de ser.” Comentou um homem, que pouco depois voltou a falar: “Ainda não houve novas daquele tipo o…Van Tesel? Há mais de vinte anos que ele desapareceu sem deixar rasto. Coitada da mulher dele, morreu dois meses depois na rua e sem notícias dele.” Haloke ficou despedaçado ao ouvir que a sua mulher havia morrido. Vinte anos esteve ele adormecido, malditas índias, pensou ele.
De repente ouviram-se gritos e vozes a gritarem: “O Haloke Van Tesel foi encontrado, está morto!”. Não!!! Também ele estava morto, era por isso que a bebida o livrara dos problemas, matando-o. Por isso dormira durante vinte anos.
Mas agora voltara e, no entanto, não voltara. Acabou simplesmente por regressar à sua vida de andar pelas montanhas enquanto o mundo atrás dele vivia vidas e mudanças. Ainda assim, algumas pessoas acham que vêem o seu espirito solitário a caminhar, por entre as montanhas, para sempre.   

1 comment:

Loïc Bagnoud said...

Well, congratulations Gonçalo for this great tale! Mixes a bit of the supernatural with the historical facts we are studying... Just interesting!

Really pumped me up to know more about the story and washington Irving himself.