Sunday, 27 April 2008

Caracterização do narrador de "The Pit and the Pendulum" (post de Regina Araújo)


O narrador mostra-nos que está em delírio e, à medida que se estende no seu relato, expressões como “it seemed”, “it might” e “I supposed” identificam a sua instabilidade. A fraca luz, o longo sofrimento e o seu estado entre a fraca capacidade mental e a lucidez fazem-no duvidar de si mesmo, o que transparece com a constante mudança da percepção deste narrador relativamente ao espaço em que se encontra, com as diferentes interpretações que faz acerca do que o rodeia. Durante um momento de lucidez, afirma: “In its size I had been greatly mistaken” e, mais à frente, diz “All this I saw indistinctly and by much effort – for my personal condition had been greatly changed during slumber”. Altera a ideia inicial de que se encontrava numa cela (dungeon) para um espaço com um poço (pit), “I put forward my arm, and shuddered to find that I had fallen at the very brink of a circular pit”. Mais tarde, ao olhar para cima, repara numa pintura representativa do tempo, mais precisamente um pêndulo (“it was the painted figure of Time as he is comonly represented, save that, in lieu of a scythe, he held what, at a casual glance, I supposed to be the pictured image of a huge pendulum, such as we see on antique clocks”). Porém, encontrava-se em movimento (“I fancied that I saw it in motion”).
Apesar do sofrimento e do medo, continua esperançoso (“even in the grave all is not lost”, o que também significa que este narrador acredita na imortalidade) e conclui que a sua única salvação serão os ratos. O episódio em que os ratos roem a espécie de mortalha a que o narrador se acha preso é forçadamente macabro, e representa graficamente a nevropatia deste narrador (com os nervos também roídos) Apesar de ter escapado ao poço (pit) e ao pêndulo (pendulum), a sua verdadeira salvação é feita por General Lasalle.
O narrador considera-se um idiota. “Long suffering had nearly annihilated all my ordinary powers of mind. I was an imbecile – an idiot”. Ao ter consciência da sua pouca capacidade mental, ao alterar as suas descrições, corrigindo-se constantemente. Consequentemente, não é fidedigno, não é seguro no seu relato, é instável.
Relativamente à relação estabelecida com o leitor, apesar de se notar o esforço típico de Poe de criar o suspense que prenda à leitura, não existem invectivas explícitas ao narratário. Toda a história é relatada na primeira pessoa, como se estivesse a ser-nos contada directamente. De notar, porém, um elo de empatia estabelecido entre autor e o leitor, quando diz: “Arousing from the most profound of slumbers, we break the gossamer web of some dream”.

(ilustração de Dan Rucker)

1 comment:

Anonymous said...

Trata-se de um narrador autodiegético, ou protagonista. O que se pretende é uma identificação do leitor com a personagem principal e os seus sofrimentos, por vezes em "tempo real". Nunca deixa de lutar para se salvar e aqui instala-se o desconforto quando nos apercebemos da futilidade permanente de tais esforços. O destino último parece ser o vórtice - o poço. A esta psicologia do desespero e angústia, típica do autor, é oposto o final choque "in extremis", que só é diminuído no seu impacto, por sem dúvida havermos lido muitas coisas semelhantes feitas desde então.