Tuesday 10 October 2023

para dia 17 de outubro: Washington Irivng, "The Enchanted Island" (antologia, pp. 92-101)

 Responda a uma destas duas propostas:

1. Don Fernando é caracterizado por três instâncias: descrição de caráter, narração de ações e diálogos. Em que medida é que estas três instâncias convergem - ou divergem - para a nossa impressão da personagem? Caracterize-a brevemente, em termos psicológicos, usando exemplos textuais de cada uma destas instâncias.

2. Haverá uma moral para esta história? Em que medida nos faz requalificar termos como "exploração", "descoberta", e que valores são colocados (ímplicita ou explicitamente) em contraste com estas ações?

3. Que pode significar a "Ilha das Sete Cidades" e/ou o retorno da personagem a Lisboa? Não se esqueça de fornecer evidências textuais na sua resposta.






3 comments:

Anonymous said...

(comentário de Michelle Santos I)
Com recursos textuais da narrativa, demonstrarei que tanto a descrição do caráter da personagem como a narração de suas ações e diálogos divergem à medida que a história se desenrola.

O início da narrativa refere Don Fernando como um sendo um, “young cavalier of high standing in the Portugueses court, and the most sanguine and romantic temperament” que inclusivamente detém aprovação e bênção por parte do rei Dom João II. Para além deste aparente estatuto, o jovem Don Fernando possui uma ansiosa esperança que o impulsiona a ser corajoso na prossecução dos seus objetivos náuticos. No entanto, o seu excessivo temperamento romântico viria a colocar o seu comportamento em causa. A respeito deste fato, o narrador comenta "Now, let the truth be spoken, Don Fernando, if he had any fault in the world, it was that he was a little too inflammable” e que bastaria um “sparkle of bright eye” para fazer atear a chama ardente que nele vivia e que o poderia vir a trair. Se por um lado encontramos um Don Fernando, jovem cavaleiro bem visto e bem posicionado na sociedade, vimos também que esta opinião não era unânime. Don Ramiro Alvarez, pai da sua noiva Serafina, apercebe-se da dualidade amorosa de Don Fernando, e coloca em causa a sua sanidade mental ao descobrir a sua verdadeira intenção: “marry Serafina, enjoy a portion of the honeymoon at once, and defer the rest until his return from the discovery of the Seven Cities!” O narrador transmite a ideia de dilema ao utilizar o seguinte momento retórico “How should he reconcile the two passionate inclinations?”

O narrador mostra-nos que Don Fernando acredita piamente que é possível ter o melhor dos dois mundos, prometendo amor e fidelidade a Serafina aquando da sua triunfal aventura náutica: “Never could another be captivating in his eyes! - never – never! Com a repetição de never estaria ele a tentar a convencer-se a si próprio, e a mais ninguém, de que poderia mesmo ser verdadeiramente fiel.

Anonymous said...

(comentário de Michelle Santos II)
À medida que a narrativa se desenrola, o leitor vai-se deparando com o desvendar de um Don Fernando alterado, psicologicamente divergente e de carácter instável. O facto de ficar “Becoming spirit” ao não ouvir o seu sogro significa que ele não pondera a sua opinião, chamando-o de insensato: “O Cupid, god of Love!” why will fathers always be so unreasonable!” Através deste apóstrofe, Don Fernando dirige-se diretamente ao Cupido, deus do amor, personificando-o como uma entidade divina que tem o poder de responder à sua frustração e entender a intransigência de Don Ramiro Alvarez em relação ao assunto.

Esta evocação parece transparecer uma certa hipocrisia e é por esta altura que começamos a ver Don Fernando como uma pessoa traiçoeira, orgulhosa, e acima de tudo, com um pensamento delirante e imaginativo.

A partir de certa altura no texto, já na ilha das sete cidades, a personalidade de Don Fernando é desmascarada, o leitor fica com a sensação de uma história delirante e sonhadora tal como Don. Ramiro teria indicado que ele seria. O narrador propositadamente remete para o mistério com a frase retórica “Could this be true?” A repetição das estrofes remete-nos para um momento (dreamy) de alucinação com “Who goes there?” “The Adelantado of the Seven Cities.” “He is welcome.” “Pass on.” Esta repetição acontece três vezes na narrativa o que leva o leitor a acreditar que a história tem mesmo uma face escondida e que efetivamente Don Fernando apresenta uma necessidade enorme ser reconhecido e de ser servido por todos. A história culmina ao reconhecer a megalomania delirante da personagem, o desejo insaciável pela grandeza. Provavelmente, foi este desejo desmedido de poder que tomou conta da psique de Don Fernando levando-o a um insaciável desespero. Um final que, tal como Don Fernando, mantém uma certa dualidade. Por um lado, a desilusão, ao perceber que já se tinham passado 100 anos após a sua partida, e, por outro, a esperança de poder voltar a encontrar a ilha encantada "...in the hopes of the reappearance of the enchanted island.”

Em resumo, Don Fernando é uma figura complexa e instável, que oscila entre a esperança, a ilusão e a desilusão. A sua busca pelas Sete Cidades revela uma dualidade na sua personalidade, culminando em desilusão, mas com uma faísca de esperança ao vislumbrar a possibilidade de encontrar novamente a ilha encantada.

Tatiana Sobreiro said...

2.
Na obra “The Enchanted Island”, escrita por Washington Irving, em 1840, é apresentado ao leitor, antes de tudo, um poema, de Ben Jonson, que eu, pessoalmente, interpretei como uma construção alegórica da ilusão, mencionando elementos típicos da fantasia na primeira metade. Destaca-se inicialmente a rima, visto que, no início, o poema rimava de forma quase perfeita, mas, na segunda metade, ao opor a ilusão com a realidade, a rima é afetada nos versos “It must have blood and nought of phlegm”, “Yet let it like an odor rise” e “And fall like sleep upon their eyes”, que acabam por ser versos soltos, distintos da constante rima cruzada no resto do poema. Este detalhe reflete uma insistência na ideia de ilusão, sendo estes três versos os mais marcantes e elucidativos desta concepção no poema.
Da mesma forma, Irving introduz uma extensa narração de um cenário mágico e encantador, enquanto na frase “Let not, however, the doubts of the wordly-wise sceptics of modern days rob us of all the glorious realms owned by happy credulity in days of yore” o narrador assume uma posição de “literary hoax” através de um “unreliable narrator” que insta o leitor a acreditar nesta concepção idílica (“be assured, that such an island does actually exist”). No entanto, no desfecho do texto, após uma narrativa marcada por um constante “shift” entre momentos eufóricos e disfóricos, o protagonista, Don Fernando, encontra um fim trágico e solitário, dado que toda a esperança demonstrada em relação à reaparição da ilha encantada resultou em desilusão.
Uma interpretação possível para a moral desta história é a dicotomia entre ilusão e desilusão, que enfatiza como a ambição e expectativa extrema conduzem à desilusão, o que se pode adequear à expressão idiomática “quanto maior o tiro, maior a queda”. Além disso, pode-se considerar a intencionalidade da viagem de exploração, guiada pela ambição da riqueza e da fama, como um caminho incorreto que leva o protagonista a esquecer as suas convicções e abandonar tudo para seguir um sonho inalcançável.
Assim, é legítimo ponderar que a ambição extrema conduz à destruição da alma e da vida, sendo uma moral exemplificada por esta narrativa.
Portanto, Washington Irving, nesta obra, destaca um contraste significativo entre as expectativas românticas das viagens marítimas, caracterizadas pelo prazer da descoberta e exploração, e a realidade da história que revela a componente imoral da busca desenfreada pela riqueza e fama. Por outro lado, a ilha, isolada da sociedade, suscita a seguinte questão: Será que o facto da ilha se ter preservado idealizada e não corrompida se deve ao seu afastamento da “Civilização”?