Thursday 19 October 2023

Para a aula de 24 de outubro: Frances Ellen Watkins Harper

Escolha um ou mais destes pontos de partida para ler o conto "The Two Offers" (antologia, pp. 120-127)

1. Estamos perante uma autora afro-americana. Isso torna-se percetível em algum dos momentos do texto? Especule.

2. Interprete o título, "The Two offers" e compare a(s) dualidade(s)/escolha(s) apresentadas com as de Margaret Fuller.

3. Pensando no projeto de escrita criativa "A Reply", pondere/(re)crie qual seria a resposta que daria a personagem Janette, no fim da vida, à pergunta colocada acerca do (nao) casamento pela sua prima: "Well, suppose there is [the risk of being an old maid], is that the most dreadful fate that can befall a woman?




4 comments:

Liliane Silva said...

Frances Ellen Watkins Harper foi abolicionista, sufragista, poetisa, professora, oradora e escritora afro-americana. O conto "The Two Offers" foi publicado em 1859, dois anos antes do início da Guerra Civil. Aborda o papel da mulher na sociedade, sublinhando a sua opinião e subsequente crítica sobre o casamento como tradição insensível que não completa a mulher em aspetos morais, religiosos e pessoais.

O título “The Two Offers” apresenta uma dicotomia. Primeiro, “two offers” refere-se a um aspeto mais literal da obra, as duas ofertas de casamento a Laura. Depois, refere-se à escolha da mulher entre conformar-se às ideias do patriarcado e casar-se ou de procurar a “true womanhood” através de felicidade pessoal. A primeira escolha é tomada e exemplificada por Laura e a segunda por Janette.

A comparação começa na maneira como estas mulheres tomam a sua decisão. Laura está fora de si (“you have commenced a half dozen letters and torn them all up”) entre escolher um ou outro homem, mesmo afirmando que nenhum deles seria bom marido. Janette aceita a possibilidade de ser “an old maid”, dizendo “is that the most dreadful fate that can befall a woman?”. O estado de espírito de cada uma serve para realçar e criticar como a escolha tradicional pode levar ao sofrimento da mulher, mas, também nos ajuda a entender como cada prima se valoriza. Janette considera o casamento como “affinity of souls or a union of hearts”, ou seja, o seu valor emocional exige uma escolha ponderada, e Laura acredita que o valor social do casamento é superior à infelicidade que poderá enfrentar. Esta parece ser também a opinião que a narradora quer transmitir (“their souls never met”, “between him and her there was no affinity of minds, no intercommunion of souls”), denunciando a desconexão emocional nos casamentos da época.

Daí que, até o marido de Laura a vê como um prémio (“prize”): “he looked upon marriage not as a divine sacrament for the soul’s development and human progression, but as the title-deed that gave him possession of the woman he thought he loved”. Este excerto esclarece a visão do marido de Laura, questionando se ele realmente a amava.

Para além disso, Janette não é incapaz de amar. A personagem apaixona-se e, justamente por não se indentificar apenas com esse romance, é capaz de crescer e se tornar uma pessoa melhor através do amor e do sofrimento posterior. É defendido o carácter sentimental da Mulher, referido como “[a] woman’s deep capacity for loving” e “affectional nature”, mas reforçada a ideia de que apesar de o amor romântico poder beneficiar a Mulher, são necessários outros aspetos para a felicidade plena (“[h]er conscience should be enlightened, her faith in the true and right established, scope given to her Heaven-endowed and God-given faculties.”).

Por outro lado, é também importante o tom pedagógico do texto. Ao usar a primeira pessoa do singular, “I do not deny it” e “before I proceed with my story”, apesar de ser uma narradora omnisciente, sublinha um carácter pessoal e íntimo. Desta maneira e também através de perguntas retóricas (“but will the mere possession of any human love, fully satisfy all the demands of her whole being?”), encoraja os leitores a conectarem-se com a história a esse nível, fazendo-os refletir sobre estas “two offers” que a Mulher tem.

A palavra “true” é referida diversas vezes, aplicada ao carácter, ao lar, à cultura, ao artista, ao poeta, à vida e à felicidade, sendo esta uma das convenções literárias da época. Expressões como “the true woman” e “the true manhood” são, então, facilmente relacionadas com Margaret Fuller. Fuller, em 1843, intitula o seu ensaio “The Great Lawsuit, Man versus Men, Woman versus Women”, questionando também a relação entre as mulheres e a ideia societal do que seria uma mulher (Harper denomina-as “girlishness”). Tal como Fuller, Harper não toma uma posição essencialista que igualaria o “homem” à maldade, apontando defeitos na sociedade capitalista e na educação dada ao marido de Laura.

Carolina Silva said...

2. “The Two Offers”, um título que desde já representa um dualismo. No texto são-nos apresentadas duas personagens principais, Laura Lagrange e Janette Alston, que acabam por viver vidas muito diferentes e distintas uma da outra. Laura casa com um homem que não lhe dá o devido valor e consequentemente leva uma vida infeliz, já Janette escolhe focar-se no seu desenvolvimento pessoal, espiritual e intelectual. Nestes aspetos encontramos desde já uma dualidade. A mensagem principal que o eu-lírico transmite neste texto é o que a mesma acredita ser uma “mulher ideal” – “Her conscience should be enlightened, her faith in true and right established, scope given to her Heaven-endowed and God-given faculties. The true aim of female education should be not a development of one or two, but all the faculties of the human soul”.
A personagem Laura Lagrange representa o contrário ao que escrevi anteriormente. Laura é uma mulher que acredita que o seu objetivo de vida é casar e tem medo de acabar solteira, acreditando que isso é o pior destino que pode calhar a uma mulher – “(…) there is the risk of being an old maid, and that is not to be thought of”. A personagem que contrasta este pensamento, Janette Alston, pergunta-se se isso será mesmo o pior destino de uma mulher – “(…) is that the most dreadful fate that can befall a woman?”. Podemos observar neste diálogo entre ambas o contraste e a dualidade de pensamentos.
Com o continuar da história assistimos ao destino trágico de Laura, que acaba por casar com um homem que não retribui os seus sentimentos e a esquece ainda no seu leito de morte. Por outro lado Janette viveu uma vida cheia apesar de nunca ter casado – “Her life was like a beautiful story, only it was clothed with the dignity of reality and invested with the sublimity of truth.” e “(…) the world was full of warm, loving hearts, and her own beat in unison with them.”
Tal como Frances Ellen Watkins Harper, Margeret Fuller também defende o desenvolvimento pessoal como objetivo principal da vida. Ambas defendem isto não só para a mulher, mas também para o homem, neste caso para o ser humano/a alma humana.
Desde cedo que Margaret Fuller recebeu uma educação pelo seu pai igual à educação de um rapaz daquela altura, logo, sempre defendeu essas mesmas oportunidades que teve para a mulher. Acredita que isso é essencial para ser um ser humano completo e não só um de sentimentos, um espírito de cultura. Juntamente com isto defende que a mulher e o homem não são dois seres completamente distintos, mas que fazem parte um do outro – “Male and female represent the two sides of the great radical dualism. But, in fact, they are prepetually passing into one another. (…) There is no wholly masculine man, no purely feminine woman.”
Posto isto, as duas poetas não criam uma distinção tão forte entre os sexos, mas sim um conjunto de ambos. Defendem também a educação e a igualdade de oportunidades para mulher, para que esta possa desenvolver o seu potencial e alcançar uma felicidade vinda de vários fatores e não apenas um.

Sofia Henriques Fialho said...

One possible interpretation of the title "The Two Offers" could be an allusion to two separate claims or suggestions. These offers could be interpreted as decisions or selections made by an individual, suggesting a problematic or dualistic situation.
In "Woman in the Nineteenth Century," for example, Fuller explores the paradoxes and decisions that women had to make in a society that often limited them to traditional roles. Fuller explains how societal and cultural expectations place limitations on women and promotes gender equality and greater opportunities for them.
Therefore, by comparing "The Two Offers" to Margaret Fuller's body of work, the analysis could investigate how both scenarios require the need to make important commitments in the face of perceived dualities. This could also include identity concerns, roles in society, or other aspects that mirror basic problems people face, whether in the particular setting of a title or in Fuller's more general literary works.
Sofia Fialho

Ana Luísa Pinto said...

2. O título do conto refere-se às suas duas personagens principais: as primas Laura Lagrange e Janette Alston, que acabam por viver vidas muito distintas e com fins igualmente diferentes. De facto, apenas uma teve um final abrupto na sua história…
Enquanto que Janette vive uma vida de “Old-maid”, sem um marido ou filhos, Laura deseja casar-se e ser mãe, sendo confrontada com duas ofertas de casamento logo no início do conto (o que pode também dar nome à história, mesmo que as primas sejam o principal foco). A decisão que Laura toma acaba por definir toda a sua trajetória de vida, que acaba por ser drasticamente diferente da de Janette.
Laura, determinada a cumprir o papel que a sociedade ditou para ela, escolhe casar-se com um dos homens interessados nela, acreditando em promessas e sonhos de amor verdadeiro. Mas assim que se casa percebe que o seu marido não a vê como uma pessoa, mas como um simples prémio. Não lhe liga importância, abandonando-a completamente nos seus melhores e, principalmente, nos seus piores momentos. Nem quando Laura deu à luz e pouco depois perdeu o filho de ambos, ele pensou nela e no seu bem estar, virando-se para a bebida e focando-se na sua “gambling addiction”. Os constantes desgostos e a negligência do seu marido tornaram a vida de Laura num inferno, sugando a sua alegria e saúde aos poucos. No final, acaba por morrer rodeada da família, chamando por um marido que já nem se recordava da sua existência.
Já Janette, apesar de ter uma vida que a prima considerava como desprovida de amor e infeliz, viveu melhor e durante muito mais tempo que Laura. A sua vida como Old-maid permitiu-lhe ditar o seu próprio destino, sem um marido para a controlar e com uma ligação muito forte a deus. Cresceu com o intenso carinho da familia (carinho muito mais forte do que o amor que qualquer marido lhe pudesse dar) e tornou-se numa pessoa culta, independente mas cheia de amor dentro de sí, mostrando que é de facto possível ser feliz e amar mesmo sem seguir o caminho e as normas impostas às mulheres pela sociedade da época. Acabou, infelizmente, a assistir à lenta morte da prima.
Janette Alston e Margaret Fuller partilham ideias muito semelhantes, podendo ser facilmente associadas uma à outra. Ambas desafiam a sociedade e os padrões impostos sobre as mulheres da época, recusando-se a ceder a estes padrões e lutando para os mudar. Acreditam que as mulheres podem ser muito mais do que esposas e mães submissas e que têm tantas capacidades e intelecto como um homem.