Monday 22 April 2013

Resposta de Lenore ao Sr. Poe, Poeta (por Margarida Ferreira)


Caro Edgar Allan Poe,
Devo dizer que já li e reli várias vezes o seu poema “The Raven” e, de certa forma, há algumas coisas que me desagradam. No entanto, confesso que a forma de construção do poema está bastante interessante, o que acaba por emanar um sentimento de pura atracção para qualquer leitor de bons poemas. O que, do meu ponto de vista, está muito engraçado são as terminações de palavras que rimam na perfeição. A última estrofe é a que mais me cativa por duas razões: primeiro, porque indica o culminar do sofrimento sentido ao longo de todo o poema; segundo, porque a sua leitura tem uma melodia muito bonita, com todas as rimas nela presentes, mais precisamente o facto de rimar uma palavra interna (como flitting) com outra em posição final de verso (como sitting). Este argumento pode parecer suspeito, uma vez que estou a dizê-lo conforme a minha opinião pessoal, mas tenho a certeza que há muitos outros entendidos em poesia que pensam o mesmo que eu.
Passando às críticas, acho uma grande falta de respeito a ideia que acaba por transmitir com este mesmo poema. A mim parece-me que o Poe é um homem de poucos sentimentos. Gostaria que houvesse alguém (ou algo, num mundo fantasiado como em “The Raven”) que o incomodasse tão brutamente aquando da perda de alguém que lhe é querido? Com certeza que já presenciou uma morte, visto que todos à sua volta parecem estar amaldiçoados… O luto é algo que, por vezes, faz-se melhor sem a companhia de ninguém. O luto é algo que implica reflexão anterior. No seu poema, a ideia que o leitor retém é a de pressão. Pressão em querer que a pessoa sofra em vez de seguir em frente. Tenho a certeza que o senhor Thomas Jefferson não estaria nada de acordo com esta sua perspectiva maliciosa e cruel. No seu texto “Declaration of the Representatives of the USA”, ele refere o tema da felicidade como sendo algo a ser atingido por toda e qualquer pessoa. Apesar de ele o afirmar baseando-se noutros factos, penso que o objectivo é o mesmo: atingir a felicidade pura e plena. Ora, “The Raven” não está de acordo com isto! O símbolo da morte (o corvo) só causa mais dor ao sujeito poético. Não o permite continuar a sua vida, mas sim cavar um vazio ainda mais fundo no seu coração. Esta é então a primeira crítica a este seu trabalho. Pense nisto, se lhe interessar.
A segundo crítica que tenho a fazer diz respeito à sua escolha do animal (o corvo). Já ouviu falar de Ralph Waldo Emerson? Se sim, então há grandes possibilidades de conhecer o seu magnifico trabalho. Bem, este escritor americano foi sem dúvida um dos que mais valorizou a vida, a natureza e o presente. Ele afirmava que o lado bom da vida era viver no momento presente e não no passado ou sem acções concebidas no passado. Afirmava também que ele apenas se interessava pelos vivos (“my business is with the living”). Quanto a isto, nada parece estar errado no seu poema, certo? Poe escolheu um animal vivo para ser a fonte emissora da palavra Nevermore. O problema, neste caso, é que há uma grande convenção social de que este pequeno animal representa a morte e/ou seja sinal de maus presságios, concedendo-lhe assim um significado mais obscuro que a realidade. Para além do mais, o senhor introduziu-o num poema que aborda o tema da morte. Dito isto, penso que Emerson é um dos exemplos que Poe poderia ter seguido, visto que a emoção que iria transmitir no poema seria uma bastante mais feliz. O próprio leitor sentiria o mesmo.
Aqui termino a carta com a minha apreciação ao poema “The Raven”. Aparte do que referi como críticas, o poema está muito bem construído.
           Lenore.

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