Monday 19 September 2022

T. P. C. para 22 de setembro

 Sobre o texto de Washington Irving, "Rip Van Winkle", destaco as seguintes linhas de leitura, e podem comentar sobre qualquer uma delas: 

- prefácio e construção da ficção histórica 

- até que ponto será Rip um americano-tipo ou um americano residual? (e estamos perante uma personagem tipo ou redonda?) 

- relevância do maravilhoso / interlúdio do sonho nesta história.

- intertextualidade - imaginário político e coletivo - conhecem outras histórias semelhantes? qual pode ser o significado desta?


Imagem: Arthur Rackham, 1905.



9 comments:

Unknown said...

Não diria que Rip Van Winkle é de todo um americano tipo, e pelo contrário, diria que será provavelmente o completo oposto da imagem mental a que estamos habituados quando pensamos no típico americano. Rip é preguiçoso apenas para o seu próprio bem, ou seja, está sempre disposto a ajudar e assistir os outros, mas evita ao máximo realizar os seus próprios deveres, sendo que mesmo quando tenta, é mal sucedido would rather starve on a penny than work for a pound". A sua atitude de vida é completamente incompatível com a do americano tipo, individualista, esforçado e empreendedor. É claro que pode ser dito que esta ideia americana não estava ainda tão presente na época em que Rip existe- afinal de contas, quando este adormece estamos no periodo em que os EUA ainda pertencem ao domínio ingles. Acredito também que Ric é uma personagem tipo, ou seja, uma personagem simples, sem grande complexidade, e sem que o seu modo de ser se altere ao longo da historia. Mesmo após descobrir que perdeu 18 anos de vida, que tudo se alterou drasticamente, e de todas as mudanças que ocorreram no mundo na sua ausência rapidamente volta ao seu registo comum de inércia. Deixo também num pequeno aparte uma ideia que me surgiu e que me parece interessante: creio que há uma possibilidade (apesar de para mim Rip não representar de todo a América do Norte) da mulher de Rip, Dame Van WInkle representar o dominio inglês, sempre a importunar o marido, naquilo que pode representar os abusos que o rei inglês impunha aos americanos- "If left to himself, he would have whistled life away in perfect contentment". Quando Rip descobre que esta já faleceu, sente-se até aliviado, pelo facto de isto significar finalmente a sua independência (da mesma maneira que os americanos se terão sentido ao descobrirem que tinham conquistado a sua própria independência).

Francisco Fortunato, 158581

Diana Calado said...

"Rip Van Winkle" surge envolvido numa aura de mistério que remonta ao folclore germânico e que se renova numa perspectiva norte-americana. O carácter explicativo do Prefácio pretende assegurar a narrativa como verdadeira e de fonte fidedigna ainda que o autor não negue que se trata de um conto ("tale"), estilo literário naturalmente conhecido pelo seu cariz ficcional e maravilhoso. Talvez por isso mesmo haja por parte do autor a necessidade de contrabalançar a ficcção com uma dose de seriedade incutindo desde logo no leitor pelo menos uma certa dúvida quanto à veracidade da obra. Na verdade, a justificação detalhada da origem de uma narrativa fantástica tem sido um recurso utilizado por diversos autores. Tome-se o exemplo de Miguel de Cervantes e da sua mais famosa obra "Don Quijote de La Mancha", repleta de façanhas extraordinárias e também da autoria de uma personagem fictícia, Cide Hamete Benengeli, afirmando-se Cervantes como mero receptor e tradutor da obra. Assim, é possível verificar, através destes exemplos, quanto o Maravilhoso se solidifica por oposição à realidade que os autores tentam nos incutir.
Este conto apela, portanto, como as demais histórias fantásticas, à nossa crença infantil que, suspendendo a lógica por uns instantes, se permite enredar pelos eventos mirabolantes. No entanto, esta está longe de ser uma mera narrativa para entreter numa noite outonal, já que no conflito principal da mesma surgem algumas questões importantes. Por exemplo: Como lidar com as constantes mudanças a que o mundo político e social está sujeito? Que atitude levará um país adiante? A de Rip Van Winkle, acomodado e despreocupado com o seu futuro, ou a dos fundadores dos EUA que lutaram pelo que era injusto e ergueram uma nação independente?
Van Winkle torna-se no final da narrativa símbolo dos tempos antes da guerra ("a chronicle of the old times 'before the war'"), mas para além disto a sua figura pode também ser vista como uma ponte entre o passado e o futuro, "preferred making friends among the rising generation" demonstrando a importância dos norte-americanos se unirem numa visão que contempla, não o passado opressor, mas sim a possibilidade de criar um amanhã melhor onde a liberdade e a procura da felicidade estejam na ordem do dia.

Inês Ramos said...
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Inês Ramos said...

Após a leitura do texto “Rip Van Winkle” de Washington Irving é possível identificar alguns elementos interessantes para análise. Apesar de não ser um conto encantado infantil, existem alguns elementos que contribuem para a criação de uma certa fantasia que, posteriormente, contrasta com a guerra. Esses elementos consistem na relevância do maravilhoso e na ideia de sonho. Um dos elementos que torna esta história semelhante a um conto e destaca a ideia do maravilhoso é a pequena vila dos habitantes, dotada de elementos encantados como nos filmes animados que víamos em criança “the light smoke curling up from a village, whose shingle-roofs gleam among the trees…”. Para além disso, a descrição das montanhas “some change in the magical hues and shapes of these mountains… They are clothed in blue and purple and print their bold outlines on the clear evening sky…” também contribui para a ideia de um género de floresta encantada, associada a um local mágico e belo. Para além destes elementos associados ao maravilhoso, é importante destacar a ideia de tempo, que não é regular, daí a referência ao interlúdio do sonho, a uma “pausa”. Esta pausa temporal decorre quando o protagonista, Rip Van Winkle, adormece e acorda vinte anos depois, após a Guerra da Independência dos EUA. Desta forma, a referência ao maravilhoso e ao sonho podem ser vistos como ferramentas de "diminuição", minimização da guerra, uma vez que quando a personagem principal acorda já tudo passou. A ideia de uma paragem no tempo fez com que o protagonista não tivesse de sofrer os efeitos da guerra, pois quando este acordou já o seu país se tinha libertado da Inglaterra, assim como ele próprio já estava libertado da sua esposa. Podemos então estabelecer uma certa analogia entre a guerra já ter terminado quando o protagonista acordou e também o tempo de “tirania” da sua esposa ter terminado. Aliado ao tempo, também a descrição encantada inicial relacionada com magia e beleza serve para contrastar com o conceito de guerra.

João Pedro Lima said...

A existência do maravilhoso em "Rip Van Winkle" realça a sátira relativamente á personagem titular, e à sociedade contemporânea da escrita.
Mesmo tendo perdido 20 anos da sua vida, e muitos dos seus conhecidos, Rip essencialmente permanece igual a como começou, "Idle", indiferente perante assuntos políticos ao contrário do resto da sociedade.
Um certo tipo indiferença também se verifica na América pós-revolucionária. Os cidadãos, tão investidos na política do país, que ao saber que a situação de Rip é irrelevante para essa mesma política, ignoram-na, independente de ser na altura o primeiro caso comprovado de viagem temporal e que outrora possa também corroborar a existência de seres sobrenaturais.
Nestas críticas evidencia-se um moral, como tal se verifica também em histórias do fantástico: "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra". Ou seja, não ser tão afastado da realidade politica como Rip, mas não ficar obcecado por esta em detrimento de outras coisas de igual importância.

Beatriz Lima said...

Rip Van Winkle representa a transição histórica dos EUA, na qual por meio da ironia nos faz refletir sobre os costumes e ideais da sociedade da época, onde o protagonista possui atitudes totalmente contrárias ao que era idealizado. Embora fosse querido por todos da vila, era um homem preguiçoso que sempre fugia dos seus deveres.
Passado vinte anos, ao acordar Rip teve a impressão de que até o carater do povo tinha mudado, e não somente isso, ao ser questionado sobre questões políticas como direitos dos cidadãos e eleições, ele começou a questionar sua própria identidade: " I was myself last night, but i fell asleep on the moutain, and they´ve changed my gun, and everything´s changed, and I´m changed, and I can´t tell what´s my name or who I am!", nos indicando assim como muitas pessoas enfrentaram essa transição de colonia para país independente.

Diogo Peixoto said...

I believe that in terms of intertextuality, "Rip Van Winkle" can be compared to a number of different texts that originate from the same period, one of them being "Nature" by Ralph Waldo Emerson, because I believe nature as an element is very relevant in both texts. As such, Rip Van Winkle is not a typical American of his time, since he is not involved in what was the general public's priority - the Independence of the United States of America. From a political viewpoint, I believe this is how Rip differs from his American peers. Overall, I believe the topic of passiveness and individuality as a person by using nature as a refuge, I believe this is how one can relate "Rip Van Winkle" to "Nature".
Emerson defends the idea that nature is higher than all man-made purposes and ideals, which is clearly the case for Rip. In terms of interpretation, I would argue that "Rip Van Winkle" is a direct consequence of "Nature".

Cristiana Costa said...

Até que ponto será Rip um americano-tipo ou um americano residual? (e estamos perante uma personagem tipo ou redonda?)

Rip Van Winkle não é, de todo, um americano tipo. Os americanos são conhecidos por serem trabalhadores árduos e, para além de se preocuparem com o próximo, preocupam-se com eles mesmos. RIP é o oposto desta imagem social posta pelos americanos. É preguiçoso, mentalmente e fisicamente. Apesar de estar sempre pronto para ajudar o outro, no que toca à sua própria satisfação, RIP peca completamente. Há uma frase particularmente interessante no ensaio que retrata bastante bem esta mentalidade, quando se encontra escrito “would rather starve on a penny than work for a pound”. Pode-se também concluir que RIP é um personagem tipo, simples, sendo que a sua história se mantém inalterada durante um longo período de tempo. Quando adormece está ainda sobre o domínio inglês e ao acordar e perceber que passaram 18 anos da sua vida, nos quais mudanças drásticas ocorreram e o mundo onde viveu está totalmente diferente, nada a ele lhe afeta.
- Cristiana Costa

Bruno Moura said...

Rip Van Winkle simboliza, a meu ver, o passado. Durante a sua absencia tudo muda, excepto o próprio personagem, que se mantém fiel ao coletivo e às suas origens. A politica está presente na obra nomeadamente quando este retorna após vinte anos e uma das primeiras questão é se o mesmo é um “Federal or Democrat?”. Podemos também observar uma certa apatia por parte deste personagem em relação à política, devido a ter ocorrido uma grande mudança enquanto este está ausente mas o mesmo não parece atribuir grande importância à esta, talvez também pelo facto de ainda estar a tentar perceber tudo o que aconteceu enquanto esteve desaparecido. O imaginário coletivo está presente e bem destacado, quando o mesmo retorna à aldeia, e mesmo após perceber tudo o que aconteceu escolhe permanecer em vez de, por exemplo, aproveitar a oportunidade para recomeçar do zero noutro local. Observamos também que a aldeia permanece intacta passado os vinte anos, e apesar de a maior parte os indivíduos que viviam na aldeia antes de Van Winkle ter desaparecido já estarem mortos ou desaparecidos, os seus descendentes continuaram dentro das premissas da aldeia.
Outra história que partilha esta temática da passagem do tempo é “Wakefield”, no entanto existem algumas diferenças entre os dois personagens, desde logo Wakefield escolhe deliberadamente se ausentar para poder observar de longe os efeitos que essa mesma ausência causaria, enquanto que Van Winkle não tem qualquer escolha. Mesmo que, de certa forma, ambos estivessem a tentar fugir ao seu quotidiano. Podemos observar outra diferença entre estes dois personagens na forma em como ambos se readaptam após voltarem. Enquanto que o retorno de Wakefield leva a querer que o mesmo se readapta facilmente, Van Winkle por sua vez, tem uma grande dificuldade em se adaptar às mudanças que surgiram durante a sua absência. Mais uma vez isto é devido à ausência de Van Winkle não ter sido premeditada conforme foi a de Wakefield, bem como as circunstâncias em que cada um se encontrou durante entre esse tempo.

Bruno Moura